RECITADA NA NOITE DE 13 DE MAIO DE 1862, NO THEATRO ACADEMICO, POR A.
FIALHO MACHADO

O sol do bello a todos alumia!
Sua auréola cinge cada fronte
Bem como o rei do dia, mal desponte,
Dá luz egual a todo o sêr creado!
Este baptismo santo envolve e lava
Todos na mesma onda inspiradora!
Queima com a mesma chamma abrasadora!
Orvalha em egual pranto derramado!
Juntas as almas, que o sentir enlaça,
Commungam, como irmãs, na mesma taça!

Vê-os, agora, artista. — Elles estendem-te
Os seus braços e o affecto é que os impele!
Esse braço, que vezes mil repele
O laço, que em vão, tenta escravisal-o...
A corrupção hypocrita de tantos...
Que sabe resistir a quem o opprime...
É esse que, n'um impeto sublime,
Se ergue a ti, se ergue ao irmão para estreital-o.
É que a alma, que não verga á tyrannia,
Curva-se, livre, ao bello que a alumia!

Sim! aquelles que do alto de um vão throno
— Mal firme throno que estremece ao vento —
Pedem, como tributo de um momento,
Respeito, amor, affecto á mocidade,
(Mas pedem como quem ordena a escravos)
Não são esses aqui os respeitados!
Não são esses que são aqui amados!
Não escuta voz de imperio a liberdade!
Mas quem de amor nos labios traz doçura
Esse é que leva a flor de uma alma pura!

Pura e nobre! Embora, despeitados,
Lhe chamem louco e frio a esse peito...
Não se acreditam vozes de despeito.
Frio! quem diz que é frio o peito moço?
Que o sentimento é extincto n'estas almas?
Dil-o a velhice que não tem no seio
Nem uma voz de amor, nem um anceio,
A dar ao bello, que arrebata o nosso: —
Dil-o quem a deseja corrompida...
Porém na mocidade habita a vida!

A vida! sim! Bem como em cofre de ouro
Se guarda o que ha melhor, o que ha mais puro,
Deu-lhe o Senhor a guarda do futuro,
Confiou-lhe em deposito essas gemas
— O amor, a fé, o bello, a liberdade!
O amor! o que nos dá sentir profundo!
A fé! a que nos mostra melhor mundo!
A liberdade! a que espedaça algemas!
O bello! a nossa flammula brilhante!
E sobre tudo, a voz que brada — avante!