Oh que rico dezemfado
Vay no portal de Belem,
Que o Menino com a Culpa
Sae a jugar o Xadrez.

Venhaõ todos, todos cheguem,
Porque he muito para ver,
Que o meu Menino em nacendo,
Soubeſſe mais que ninguem.

Se quereis ter hum bom dia,
Todos á preça correi,
Vereis o Xàque, & mate,
Que a culpa dà deſta vez.

Tudo o que faz he com graça,
Ay JESUS que graça tem?
A gracinha, com que joga
Nam he para ſe perder.

A culpa que o vio infante
Julgou que tanta ninhez,
Nem armarſe ſaberia,
Mas elle ſe armou muy bem,

Como jugava o Menino
No mundo antes de nacer,
Deu lhe tal mate a culpa,
Que pagou quanto ella fes,

Eſtribillo.

          Correi ao Portal,
          Correi a Belem,
          Aprendei a jugar,
          Se ganhar quereis,
          Que o Meſtre he Divino,
          Se a culpa he cruel;
          Mas nam vence a culpa
          A tanto ſaber.

Coplas.
1.
O Menino he tam deſtro no jógo,
       Que nada o iguala,
Pois faz caza a hum Rey ſoberano
       Da mais nobre caza.
Muito mal contra a culpa atrevida
       O jogo ſe armava,
Porque a culpa ficou com as negras,
       Elle com as brancas.
Ay meu amor?
Ay minha alma?
       Naõ vi jogo depois, que me entendo
       De tanta gananciá.

2.
Começou a jugar tam ſeguro
       Os lanços da dama,
Que por mais que ſe armou o peccado
       Nam pode roubala.
Como Eva foy Dama, que a todos
       Cauzou mil diſgraças,
Com Maria Divina ſomente
       Fez troca de Dama.
Ay meu amor?
Ay minha alma?
       Naõ vi jogo depois, que me entendo
       De tanta gananciá.

3.
Enroucouſe ao principio do jogo,
       E neſta mudança
Roca firme ficou quando a culpa
       Se enroca por fraca.
Hum Delfin parecia o Infante;
       Porque he couza clara,
Que os Delfins por herança ſuccedão
       No Reyno de França.
Ay meu amor?
Ay minha alma?
       Naõ vi jogo depois, que me entendo
       De tanta gananciá.

4.
No Portal julgou, que em deſcuberto
       Hum Xaque lhe dava;
Porem elle cobrioſe do Xaque
       Com a ſua Dama.
Deu em Patmos hum branco cavallo
       Tam forte avançada,
Que ja a morte no negro, que eſpera,
       Nam tem eſperanças.
Ay meu amor?
Ay minha alma?
       Naõ vi jogo depois, que me entendo
       De tanta gananciá.

5.
Pós o jogo em tais termos o Infante,
       Que a culpa ſe achava
Com as peças tam prezas, que nunca
       Podia jugalas.
Porque a culpa pudeſſe no jogo
       Ficar dezarmada,
Foy roubar quantas peſſas no Limbo
       A culpa guardava.
Ay meu amor?
Ay minha alma?
       Naõ vi jogo depois, que me entendo
       De tanta gananciá.

6.
Com piões quis armarſe o Menino,
       E teve mil graças
Vir hum Rey entre pobres Vaſſalos
       Parecer Monarcha;
Quando a culpa julgou, q̇ por força
       Na Cruz o matava.
Neſte mate motou elle a morte
       Com as ſuas armas.
Ay meu amor?
Ay minha alma?
       Naõ vi jogo depois, que me entendo
       De tanta gananciá.