Mote
Ora quereis, doce Esposo
quereis, luz dos meus sentidos,
que fiquemos sempre unidos
em um vínculo amoroso?
1Agora, Senhor, espero,
que consintais, no que digo;
quereis vós ficar comigo,
que eu partir convosco quero?
que o permitais considero
fazendo-me a mim ditoso,
pois vos prezais de amoroso:
já quero as entranhas dar-vos,
e vede se assim tratar-vos,
Ora quereis, doce Esposo.
2Já, Senhor, seguir-vos posso,
pois vosso amor me rendeu,
ser todo vosso, e não meu,
nada meu, e todo vosso:
permiti como Pai nosso,
não andemos divididos,
mas antes que muito unidos
estejamos entre nós,
porque eu já quero, o que vós
Quereis, luz dos meus sentidos.
3Façamos, Senhor, um laço
entre nós tão apertado,
que de vós mais apartado
não possa mudar um passo:
porque com este embaraço
andemos tão prevenidos,
que não ousem meus sentidos
sair de vossos cuidados,
e de tal sorte ajustados,
Que fiquemos sempre unidos.
4Seja pois este querer-nos
de tal sorte requintado,
que fique todo admirado,
quem assim chegar a ver-nos:
onde possa conhecer-nos
o mundo de curioso
me inveje pelo ditoso,
vendo, que comigo amante
vos ajustais mui constante
em um vínculo amoroso