Um dia o Simeão, que não vinha ao Rio de Janeiro havia dezoito anos, abalou-se de Macaé, e o seu primeiro cuidado, ao chegar ao Pharoux, foi procurar o irmão, o José, de quem não tinha novas nem mandados.
Não lhe foi difícil encontrá-lo numa estalagem do morro do Castelo, onde vivia em companhia da mulher, que acumulava as funções de cozinheira, lavadeira e engomadeira, e de um filho de seis anos, travesso como um demônio.
O Simeão ficou muito aborrecido quando o irmão lhe confessou que não tinha ofício nem benefício, e vivia de expedientes.
— Não tens de que te aborrecer, Símeão: podia ser pior! O grande caso é que nesta choupana almoça-se, janta-se e há mesmo épocas em que se ceia! £ preciso que saibas uma coisa: não ganho vintém que não seja honestamente ganhado. Meto por aí, furo daqui, furo dacolá, e arranjo sempre alguma coisa com que agüentar a vida! Que horas tens no teu relógio?
— Três e um quarto.
— As cinco devo estar em casa do Dr. Paiva, que me mandou chamar. Para quê? Não sei; mas com certeza é para me dar alguma coisa a ganhar. Sei que ele está para amarrar-se com a filha de um negociante da Rua de São Pedro; é, talvez, para alguma comissão relativa ao casamento.
Às 4 horas o José saiu de casa, em companhia do irmão. Desceram o morro e subiram a Rua de São José.
Em caminho encontraram-se com um sujeito gordo, que, ao passar pelo José, gritou:
— Adeus, compadre!
— Quem é? - perguntou Simeão.
— O Rodrigues, uma das primeiras fortunas do Rio de Janeiro.
— É teu compadre?
— É.
Chegaram à avenida, e cruzaram-se com um coronel do Exército, a quem o José saudou com estes termos:
— Boa tarde, Sr. Compadre.
— Boa tarde.
— Também é seu compadre? - perguntou o irmão.
— Também; eu tenho muitos compadres, e são todos homens de posição e fortuna!
— Tens muitos compadres? Quantos?
— Oito.
— Ora essa!
— De que te admiras?
— Eles convidaram-te para padrinhos dos filhos?
— Não; fui eu que os convidei para padrinhos do meu.
— Que diabo de trapalhada é esta? Tu só tens um filho; como podes ter oito compadres?
— A ti o digo porque és meu irmão: meu filho foi batizado oito vezes!
— Oh! sacrilégio!.
— Sacrilégio por quê?... Ele é oito vezes cristão!.
— Mas que idéia a tua!
— Pois então! Eu já não te disse que vivo de expedientes?