Tomás Vicente da Cunha era um desses homens que desconfiam, sempre, de si mesmos. Não obstante a sua bela figura de cavalo platino, e aquela palidez que tanto encantava as mulheres, não acreditava, jamais, no prestígio da sua pessoa. Se uma senhora o olhava num baile ou num bonde, o seu cuidado consistia em voltar-se para trás, procurando, modesto, o alvo daquela distinção. A sua timidez não admitia que uns olhos femininos procurassem a sua humildade, e, muito menos, que alguma das moças do bairro o quisesse para marido.
— Não sejas tolo, Tomazinho, — dizia-lhe a mãe, num sorriso de bondade orgulhosa. — Tu és um rapaz bonito, forte, encantador, e não há moça, no Rio, que não te queira para esposo. Basta que estendas a mão, e escolhas!
Convencida de que o rapaz não tomaria, jamais, por si, uma resolução, procurou Dona Amância, ela própria, resolver o caso matrimonial do filho, casando-o com Carmenzita, filha mais nova do seu irmão Geraldo, e uma das meninas mais lindas que as areias de Copacabana têm visto nestes últimos tempos. E estavam casados há um ano, quando o Tomás enveredou, certa manhã, pela casa materna, chorando como um bezerro faminto.
— Minha mãe, eu sou um desgraçado! Eu não te disse que a Carmem me enganava?...
— Que foi, meu filho? Que foi? — atalhou a matrona, a aflição estampada nos olhos. — Apanhaste-a em flagrante?
— não, senhora; mas ela teve criança esta noite, e teve dois filhos de uma vez!
— ?...
— Um eu sei que é meu; e o outro? O outro... eu não sei de quem é...