Terreiro da fazenda; À esquerda, a casa com alpendre. Cerca e tranqueira aberta. Em perspectiva, a senzala e morros, com plantações de café. À direita uma grande árvore, à sombra da qual está um banco de jardim. Instrumentos aratórios, etc. Ao levantar o pano a Cena está vazia. Ouve-se ao longe o Coro que termina o primeiro ato, que se supõe entoada pelos escravos no eito. Raimundo sai de casa.
Cena I
editarRaimundo, depois o Tenente-Coronel
Raimundo - Dor... dor... minhocos! Não sabem go... gozar a fres... fresca da manhã! (Sai pela tranqueira. Aparece o Tenente-Coronel da esquerda e grita para dentro.)
O Tenente-Coronel - Olá! ó moleque! não vês que a porta do chiqueiro está aberta, e que daqui a nada os porcos estão fossando na horta, excomungado! Vai fechar a cancela, moleque! E de caminho, muda aquela água da gamela, diabo! (O Vigário tem entrado da direita.)
Cena II
editarO Tenente-Coronel, o Vigário
O Vigário - Não fale do diabo, que é pecado!
O Tenente-Coronel - Olá, Reverendo... desculpe... Aquilo é uma gente danada! E então depois da lei de 28 de setembro! (Apertando a mão do Vigário.) Como vai essa católica? Eu estava à espera de Vossa Reverendíssima.
O Vigário - Estou às suas ordens. Não me fiz esperar. (Senta-se no banco.)
O Tenente-Coronel - Desculpa o sacrifício que o obriguei a fazer.
O Vigário - Qual sacrifício! Eu gosto de levantar-me cedo e ver despontar a aurora.
O Tenente-Coronel - A aurora é o riso do céu, a alegria dos campos, a respiração das flores, a harmonia dos ares, a vida e o alento do mundo, como diz o Padre Vieira. - Mas vamos ao que serve.
O Vigário - Negócio político?
O Tenente-Coronel - Qual negócio político! Trata-se mesmo disso!
O Vigário - Recebeu jornais da corte?
O Tenente-Coronel - Recebi o Jornal do Commércio e o Mequetrefe, que traz o meu retrato.
O Vigário - Viu aquele artigo contra o Benício?
O Tenente-Coronel - Ah! sim... uma mofina...
O Vigário - Que tal achou?
O Tenente-Coronel - Passei os olhos... não li.
O Vigário - Não leu? (Tirando da algibeira um número do Jornal do Commércio.) Pois ouça... (Lendo.) “O infeliz município de...
O Tenente-Coronel (Interrompendo.) - Não! Agora não, Reverendíssimo. Não se trata de Benício. Tomei a liberdade de mandar chamá-lo para tratarmos de um assunto mais sério...
O Vigário - Mas...
O Tenente-Coronel - Demais, eu sou franco: não gosto de descomposturas anônimas... O homem deve dizer o que pensa sob sua imediata e absoluta responsabilidade... e de frente; isto de andar a insultar Os outros de máscara no rosto e a seis vinténs por linha, não me parece decente.
O Vigário - Pois você queria que eu, um Vigário, assinasse isto?
O Tenente-Coronel - Ah! Perdão! eu não sabia que o artigo era de Vossa Reverendíssima.
O Vigário - É que não está ao fato da maroteira que o Benício praticou comigo! Pediu-me que protegesse a sua eleição, que me empenhasse com os nossos correligionários... fiz-lhe o que não se faz a um filho... Cheguei a ponto de pedir uma vez aos meus paroquianos, em uma prática depois da missa, que votassem nela! Bem! pilhas-me na corte... Escrevo-lhe uma carta pedindo um emprego para meu sobrinho Ezequiel, filho de meu irmão Custódio... um emprego no Correio para um primo de minha cunhada... um lugar na Estrada de Ferro para um parente, que é alferes honorário do Exército e tem serviços de campanha... que arranjasse na Instrução Pública...
O Tenente-Coronel - Vossa Reverendíssima pediu tanta coisa um só tempo!
O Vigário - Não o defenda, Tenente-Coronel, não o defenda. Aquilo é um cão! (Levantando-se e querendo ler o artigo.) “O infeliz município de ...”
O Tenente-Coronel (Tomando-lhe o jornal.) - Depois... depois... Deixemos por um momento a política e ouça!
O Vigário (Contrariado.) - Vamos lá... o que deseja você?
O Tenente-Coronel - Vossa Reverendíssima assistiu a todo aquele escândalo de ontem, não? Chamei-o para fazer o favor de dizer-me de tudo aquilo e ajudar-me com os seus conselhos;
O Vigário - Assisti, é verdade... mas não compreendi... Vi que sua afilhada teve um faniquito... que a filha do tal Passos Pereira teve outro... Entre parêntesis: Não simpatizo muito com o tal Pereira... Um sujeito sem opiniões políticas, homem! Não é cidadão brasileiro!
O Tenente-Coronel - E Vossa Reverendíssima a dar-lhe com a política!
O Vigário - Vi que entre seu filho, sua afilhada, a filha do Pereira e O Doutor Pinheirinho havia qualquer coisa... o que, aliás, foi notado por Todos... mas, com franqueza, não pude perceber o que era!
O Tenente-Coronel - Nem eu. Era uma salsada que ninguém entendia... Mas o que me aconselha, padre-mestre? Vossa Reverendíssima compreende que é preciso tirar esse negócio a limpo.
O Vigário - Onde estão eles?
O Tenente-Coronel - Todos recolhidos ainda.
O Vigário - Reuna-os, e que se expliquem! É facílimo!- Aí vem o homem sem opiniões políticas! (Passos Pereira tem saído de casa.)
Cena III
editarO Tenente-Coronel, o Vigário, Passos Pereira
Passos Pereira - Ora muito bom dia! O Senhor Tenente-Coronel madrugou! Já por cá, Reverendíssimo?
O Vigário (Apertando-lhe a mão.) - Como vê.
O Tenente-Coronel (Apertando a mão de Passos Pereira.) - Passou bem a noite?
Passos Pereira - Foi um sono só. (À parte.) Não preguei olho... (Alto.) E o senhor?
O Tenente-Coronel - Perfeitamente. (À parte.) Passei a noite em claro.)
Passos Pereira - O que me diz dos acontecimentos de ontem?
O Tenente-Coronel - Precisamos conversar a esse respeito.
O Vigário - Nesse caso, com sua licença... Ainda não se toma café cá por casa?
O Tenente-Coronel - Há que tempo! Entre. A Tomásia lá está para servi-lo. (Gritando para casa.) Ó Tomásia, serve aí o Senhor Vigário!
O Vigário (Encaminhando-se para casa.) De café, Tomásia, de café. - Até já. (Sai)
Cena IV
editarO Tenente-Coronel, Passos Pereira, depois Dona Maria
Passos Pereira - Senhor Tenente-Coronel, minha filha teve a honra de ser pedida em casamento por seu filho.
O Tenente-Coronel - Deveras? E o maroto não me dizia nada!
Passos Pereira - Esta circunstância explica minha presença aqui... Vim tomar informações com o Doutor Pinheiro... O senhor também é pai, e compreende perfeitamente...(Com ares de orador.) que a responsabilidade moral pelo futuro dos filhos pesa imediatamente sobre as costas desses novos Anteus, que se chamam pais.
O Tenente-Coronel - Apoiado! - Mas isso não justifica os faniquitos...
Passos Pereira - Definamos as situações, Senhor Tenente-Coronel, definamos as situações! Seu filho não dirige uma palavra à noiva... não se senta ao seu lado... não olha para ela... O que quer isto dizer?
O Tenente-Coronel - Não sei... mas é fácil sabê-lo... Há de ser tudo posto em trocos miúdos... Se meu filho prometeu casamento a sua filha, há de cumprir por força a sua palavra! por força! Vou mandar chamá-lo. (Para o fundo.) Ó Simplício! vai lá dentro dizer a senhor moço que o espero aqui no terreiro. (Um negro atravessa a Cena e entra na casa, donde sai algum tempo depois.)
Passos Pereira - Tenho andado apoquentadíssimo... Quero muito bem a esta menina... O senhor compreende... A pobrezinha não tem mãe...
O Tenente-Coronel - Ah! o senhor é viúvo?
Passos Pereira - Sou, mas tornei a casar, para dar-lhe segunda mãe. (Aparece Dona Maria à porta da casa.) Francelina tinha cinco anos quando enviuvei...
Dona Maria (À parte, descendo.) - Quando enviuvou! Ah! ele é viúvo, meu Deus, ele é viúvo!...
O Tenente-Coronel (À parte, vendo Dona Maria.) - Bom! começa a amolação!
Dona Maria (Aproximando-se.) - Senhor Tenente-Coronel, muito bom dia... Bom dia, Senhor Passos Pereira...
O Tenente-Coronel - Dona Maria...
Passos Pereira - Minha senhora... Passou bem a noite?
Dona Maria - Não... não... Muito agitada... muito nervosa... Sonhei toda a noite...
Passos Pereira - Com sua irmã das Laranjeiras?
Dona Maria - Não! Coitada da minha irmã! (O Tenente-Coronel vai sentar-se de mau humor no banco... À meia voz.) Sonhei com um homem...
Passos Pereira - Um homem?
Dona Maria - Fale baixo. - Um viúvo.
Passos Pereira - Ah!
Dona Maria (À parte)- Não percebeu... Oh! os homens são cegos! (Alto) Dê-me o seu braço, Senhor Passos Pereira; vamos até a horta...
Passos Pereira (Contrariado, dando-lhe o braço e saindo com ela.) - Pois não, minha senhora. - Tenente-Coronel, eu volto já...
O Tenente-Coronel (Depois que saem, erguendo-se furioso.) - Esta mulher é como a lavoura: está sempre a pedir braços! (Entra Frederico, vindo de casa.)
Cena V
editarO Tenente-Coronel, Frederico
Frederico - A benção, meu pai?
O Tenente-Coronel (Dando-lhe a mão a beijar, sombrio.) - Santinho.
Frederico - Mandou chamar-me?
O Tenente-Coronel - Mandei, sim, senhor... Venha cá... (Levando-o para o banco e sentando-se ao lado dele.) Sente-se aqui... Estou muito zangado com você...
Frederico (À parte.) - Agüenta-te no balanço, Frederico!
O Tenente-Coronel - Então acha você que isto de casamento é brincadeira de criança, hein?
Frederico (À parte.) - Leonor queixou-se... (Alto.) Foi uma leviandade, meu pai... uma criançada de que tenho me arrependido e deveras...
O Tenente-Coronel - Vem tarde o arrependimento... Demais, ela é digna de você...
Frederico - Digníssima! Oh! mas depois que vi a outra! (Erguem-se ambos.)
O Tenente-Coronel - A outra? Temos outra!
Duetino
Frederico - A outra é muito mais graciosa,
Tem mais encantos para mim;
Nunca vi moça mais garbosa,
Não, nunca vi mulher assim!
A outra é bela entre as mais belas,
É gentil entre as mais gentis!
Convicto estou que de ambas elas
A outra só far-me-á feliz.
O Tenente-Coronel - Este mundo velho
De catrâmbias vai:
Fala assim’um fedelho
Nas barbas do pai!
Que bonita história:
Que bonito angu!
De uma palmatória
Precisavas tu!
Frederico - Por ela suspiro de noite e de dia!
O Tenente-Coronel - Do que precisavas, velhaco, bem sei!
Frederico - Amor dos amores
Minha alma inebria!
O Tenente-Coronel - O tempora! o mores!
Nada mais direi.
Frederico -Por ela suspiro de noite e de dia!
Que exista outro afeto mais puro não sei!
Amor dos amores
Minha alma inebria!
Por ela de flores
A vida terei
O Tenente-Coronel - Por ela suspira de noite e de dia
Do que precisavas, velhaco, bem sei!
Amor dos amores,
Sua alma inebria!
O tempora, o mores!
Nada mais direi.
O Tenente-Coronel - A outra? Qual outra? Valha-me Deus, pois lembra-te de outra, quando sabes que o pai...
Frederico - Qual pai? Ela não tem pai! Só se é vossemecê.
O Tenente-Coronel - Eu? Então eu sou pai da filha do Passos Pereira, rapaz?
Frederico - A outra é filha dele.
O Tenente-Coronel - Que trapalhada, santo Deus! A outra é; e a outra quem é?
Frederico - Expliquemo-nos: eu prometi casamento a duas.
O Tenente-Coronel - Mas quem é a outra?
Frederico - A filha de Passos Pereira.
O Tenente-Coronel - Essa é uma; e a outra?
Frederico (Naturalmente.) - Leonor!
O Tenente-Coronel (Admirado.) - Leonor!...
Cena VI
editarO Tenente-Coronel, Frederico, O Vigário, depois Passos Pereira, Dona Maria
O Vigário (Acariciando o abdômen.) - Agora sim! Entrei num bolo de milho, que não lhe achei espinhas nem ossos!
O Tenente-Coronel (A Frederico.) - Então não cumprimentas o Senhor Vigário?
Frederico - Já nos falamos lá dentro.
O Tenente-Coronel - Urge desembrulhar esta meada. Aquela maldita Dona Maria carregou com o Passos Pereira para a horta.
O Vigário - Esta Dona Maria não me parece ter lá muito juízo! Está sempre a pedir-me o braço... sempre a dizer que toco bem violão!
Frederico - Eles aí vem. (Entram Passos Pereira e Dona Maria de braços dado.)
O Tenente-Coronel - O Doutor Pinheirinho está fazendo falta...
Dona Maria - Então! tomou o seu café, Senhor Vigário?
O Vigário - É verdade, minha senhora... e com um bolo de milho...
Dona Maria (Deixando o braço de Passos Pereira e indo apertar a mão de Frederico.) - Como passou a noite?
Frederico - Um sono só. (À parte.) Não preguei o olho. (Alto.) E a senhora?
Dona Maria - Muito agitada... muito nervosa... Sonhei toda a noite... (Baixinho.) com um moço...
Frederico - Um moço?
Dona Maria - Fale baixo. - Um moço solteiro... estudante...
Frederico - Ah! (À parte.) Dir-se-ia uma declaração!
O Tenente-Coronel (De mau humor, apontando para Dona Maria.) - Decididamente aqui não arranjamos nada! Senhor Vigário, Frederico, Senhor Passos Pereira, vamos para a sala de visitas...
Frederico - Vamos (À parte.) Devo estar com uma cara...
Os Quatro - Com licença, Senhora Dona Maria. (Entram em casa.)
Cena VII
editarDona Maria, depois Raimundo
Dona Maria (Só.) - Anda uma balbúrdia nesta casa, que só Deus sabe... O que eu desejo, no meio de tudo isto, é não ficar sem casamento... Arre, que não é sem tempo! (Tirando um livro do bolso.) Vou ler este romance, que me mandou da corte minha irmã das Laranjeiras... As mulheres de bronze... Ah! de bronze é que eu queria ser! (Senta-se no banco e abre o romance. Aparece ao fundo Raimundo, montado num burro.)
Raimundo - Eh! eh! Olá! (Apeia-se e entrega o animal a um negro que aparece.) Vai guardar... o... outro/! (O negro sai, levando o animal pela rédea. Raimundo desce à Cena.)
Dona Maria - Já de volta de seu passeio, Senhor Mundico. (À parte.) Este, à falta de outro...
Raimundo (À parte.) Gos... gostei do... Mundico. (Alto.) É ver... verdade, mi... minha senhora. Esta gen... te a... aqui não sabe go... gozar... e fica na ca... na cama até que... que horas! (Indo apertar-lhe a mão.) Como pa... passou a... a noite?
Dona Maria - Mal... muito agitada... muito nervosa... Sonhei toda a noite com um ... moço...
Raimundo - Um mo... moço?
Dona Maria - Fale baixo. - Um moço gago...
Raimundo (À parte.) - A velha es... está me fa... fazendo uma de... decla... declaração!...
Dona Maria - Vamos dar um passeio até a horta?
Raimundo - Pois não! (À parte.) Eu pre... preferia uma xí... xícara de café... (Dá-lhe o braço.)
Dona Maria (Saindo com ele.) - Ai, ai, Senhor Mundico. (À parte.) Deixem lá... ele não é tão feio...
Raimundo - Pa... pa... pa... (Saem. Não se ouve o resto.)
Cena VIII
editarLeonor, só
Leonor (Que sai de casa.) - Não me posso esquecer de sua perfídia! Mas não sou eu igualmente culpada? O que ele praticou não pratiquei também? Tenho acaso o direito de queixar-me? Que horrível situação, meu Deus, que horrível situação!
Rondó-valsa
Que situação
O direito não ter de acusá-lo!
Duplo perdão
Deve ser de nós ambos regalo!
Tremendo estou,
Pois não sei se faremos as pazes!
Quem me mandou
Terno amor jurar a dois rapazes?
Eu tremo... tremo,
Soluço e choro,
Soluço e gemo,
Pois que o adoro
Com tanto extremo
De amor... de amor,
Que, se perdesse
Fortuna tanta,
Ó Virgem Santa,
Talvez morresse...
De dor... de dor!
Esta triste aventura,
Que aliás, faz rir,
De lição, porventura
Poderá servir!
Que situação
O direito não ter de acusá-lo!
Duplo perdão
Deve ser de nós ambos regalo!
Tremendo estou,
Pois não sei se faremos as pazes!
Quem me mandou
Terno amor jurar a dois rapazes?
Cena IX
editarLeonor, O Doutor Pinheiro
O Doutor (Depois de alguma pausa.) - Leonor... é preciso haver entre nós uma explicação clara e positiva...
Leonor - Não quero outra coisa. (Indo sentar-se no banco. Pausa.) O senhor ama-me?
O Doutor - E mo pergunta?
Leonor (Com simplicidade.) - Eu amo-o também. Casemo-nos... Não sei para que mais explicações...
O Doutor - São ociosas... são.
Leonor - Eu já me esqueci o que o senhor me fez...
O Doutor - Esqueceste? Ah! estou perdoado!
Leonor (Um tanto admirada.) - Está.
O Doutor (Caindo-lhe aos pés.) - Obrigado, Leonor... Obrigado! (Beijando-lhe ardentemente as mãos.) Tiraste-me do coração um peso de seis arrobas!
Leonor (Timidamente.) - Agora espero que me perdoará também...
O Doutor (Sempre de joelhos.) - Que te perdoarei? O quê?... (Perplexo. Levanta-se lentamente.)
Leonor (À parte.) - Ai! ele de nada sabe! Ainda bem! (Alto.) Perdoar-me... não o ter perdoado há mais tempo...
O Doutor - Não falemos mais nisso. O que deves é ajudar teu noivo a ver-se livre do Passos Pereira.
Leonor - O que tem o Passos Pereira?
O Doutor - Vem buscar o cumprimento da promessa de casamento que eu fiz à filha...
Leonor - Ela aí vem... Deixa-nos sós... Hei de desenganá-la.
O Doutor - Desengana... desengana... (À parte.) Que papel estou eu representando, meu Deus do céu!
Cena X
editarLeonor, Francelina
Francelina (Friamente.) - Bom dia, Dona Leonor.
Leonor (No mesmo.) - Bom dia, Dona Francelina.
Francelina - Passou bem a noite?
Leonor - Perfeitamente, obrigada. (À parte.) Em claro. (Alto.) E a senhora?
Francelina - Bem obrigada... (À parte.) Não dormi cinco minutos. (Vai sentar-se no banco.)
Leonor (Depois de um momento de silêncio.) - Estava morta por vê-la.
Francelina - Sim? Por quê?
Leonor - É preciso que... que nos expliquemos.
Francelina - A respeito de...
Leonor - Sim, senhora: a respeito de...
Francelina - Com mil vontades.
Leonor (Indo sentar-se ao lado dela e ameigando a voz.) - Dona Francelina... a senhora não se zangue conosco... mas... ele não a ama!
Francelina (Erguendo-se vivamente, à parte.) - Ele! Frederico! (Alto.) Como não me ama, se me pediu em casamento?
Leonor (Erguendo-se.) - Foi uma leviandade... Também me pediu a mim... E ontem...
Francelina - A mim já me havia pedido há muito mais tempo! Tenho o direito de antigüidade.
Leonor - Os últimos são os primeiros. Demais, eu não quero saber se a senhora é mais antiga do que eu...
Francelina - Mais antiga, não! Olhe lá, hein?!
Leonor - O que sei é que ainda agora mesmo, nesse lugar em que a senhora está, acabou ele de confessar que me ama.
Francelina (À parte.) Oh! pérfido! (Alto.) Vou dizer tudo a papai... porque, minha senhora, estes negócios devem liquidar-se entre os homens!
Leonor - Mas que teima de moça! Ele não gosta da senhora!...
Francelina - Mas eu gosto dele, está! Não cedo! (À parte.) Era o que falatava1 O meu Frederico!
Leonor - Nem eu tampouco, ouviu?... ouviu??... (À parte.) Tínhamos que ver! o meu Pinheirinho!
Duetino
Francelina - Não cedo! não cedo! não cedo!
Não me faltava mais nada!
Não vê! não vê!
Leonor - Não tenho medo,
Nem de você,
Nem doutra mais pintada!
Francelina - Não seja malcriada!
Leonor - Não seja arrebitada!
E escute lá;
Talvez não saiba o que aqui está!
I
Como uma princesa
Tive educação,
Língua portuguesa
Sei com perfeição;
Toco bem piano,
Danço muito bem,
E a cortar um pano
Não me ganha alguém!
Sei ler,
Escrever,
Somar e diminuir
Multiplicar e repartir.
II
Que até sou pacata
Ninguém negará;
Moça mais cordata
Cuido que não há;
Mas, quando a mostarda
Chega-me ao nariz,
Faço uma bernarda,
Mato por um triz!
Sei dar,
Esmurrar,
Aplicar cem pescoções
E quatrocentos bofetões!
Cena XI
editarLeonor, Francelina, O Doutor
(Francelina e Leonor vão engalfinhar-se, quando se mete de permeio O Doutor, que apanha de ambas)
O Doutor - O que é isto? o que é isto?
Leonor - Chegou à propósito. (A Francelina.) Ele aqui está; explique-mo-nos!
O Doutor (Timidamente a Leonor.) - Então é assim que a desenganaste?
Francelina - Mas não é este...
Leonor - Não é este?...
Francelina - Não! É o Frederico!...
Leonor, O Doutor - Ah! é o Frederico que!...
Cena XII
editarLeonor, Francelina, O Doutor, O Tenente-Coronel
O Tenente-Coronel (Aparecendo à porta da casa.) - Ó Leonor! Dona Francelina! Doutor! (Sacudindo-lhe a mão.) Como passou a noite?
O Doutor - Bem, obrigado. (À parte.) Passei-a em claro.
O Tenente-Coronel - Venham Todos explicar-se à sala de visitas... Lá temos estado - o Vigário, o Senhor Passos Pereira e eu... Mas quanto mais nos explicamos, mais embrulhamos a meada. A presença de vocês três é indispensável. Venham!
Todos - Vamos!
O Doutor (À parte.) - O Frederico... como diabo?... Estou fazendo uma bonita figura! Venham! (Entram Todos na casa. A Cena fica um instante vazia.)
Cena XIII
editarO Mestre-Escola, depois meninos da escola, Clorindo, Salustiano
O Mestre-Escola (Entrando cautelosamente.) - Ninguém! Nós entremo pelo terreiro, para a sorpresa sê mais maió. Foi uma boa lembrança. Venho com Todos os menino da escola comprimentá o Tenente-Coroné pela chegada de seu filho Ferderico. (Para fora) Psiu! Venhum tudo!
(Música. Entrada de um Coro de rapazes de seis até quinze anos, fazendo uma escada. Entre eles, Salustiano e Fabrício. Depois do mais pequenino, está Clorindo, adulto e barbado. Cada um traz um ramalhete na mão.)
Coro de Rapazes -Menino da escola semos
E mais que o mestre sabemos,
Pois Todos este menino
Sabe a cartilha de có,
Tanto os pequenino
Como os mais maió!
O Mestre-Escola (Ao público.) - É um gostinho! Querem vê?
(Aos rapazes.) - Digam lá o a b c!
Os Rapazes - A, B
C, D
E, F, G, H
I, J, K,
L, M, N, O, P,
Q, R, S, T,
U, V,
X, Y, Z.
Coplas
I
O Mestre-Escola - Este belo município
É-me muito devedô:
Dos progresso das ciência
Sempre na vanguarda tou
Por isso da Rosa o Hábito
Em breve recebê vou!
Coro - Ai! ai!
II
O Mestre-Escola - Quando eu tivé a tetéia.
Hei de dá um bom jantá;
Os juiz e seu Vigário
Convidadinho será
E, durante um mês da pândiga
Tudo aqui ondem falá!
Coro - Ah! ah!
E, durante um mês da pândiga
Tudo aqui ondem falá
O Mestre-Escola - Vamo! vamo fazê mais um ensaio do descurso! Salustriano, diga lá.
Salustiano (Aproximando-se e declamando.)- Senhô Tenente-croné, se bem que sejamos...
O Mestre-Escola (Emendando.) - Que séjamo, Salustriano, que séjamo! Prencipia outra vez do prencípio.
Salustiano - Senhô Tenente-croné, se bem que sejamos...
O Mestre-Escola - Ah! É assim? (Tira uma férula da algibeira e dá duas palmatoadas em Salustiano.) Dá cá o descurso! Leia você, Fabrício...
Fabrício - Eu não sei, não senhô! (Desata a chorar. O Mestre-Escola procura outro com os olhos.)
Os Meninos (Chorando.) - Nem eu, não senhô!
O Mestre-Escola - Clorindo, tu é que vai sarvá a situação, meu véio!...(Dá-lhe o discurso.)
Clorindo (Lendo como nas escolas, soletrando e cantando.) - “Senhor Tenente... c o co, r o ro... Senhor Tenente-cronel...
O Mestre-Escola - Croné... croné...
Clorindo (Continuando.) - “Senhor Tenente-croné, se bem que s e se...”
O Mestre-Escola - Séjamos! Essa palavrinha tá difice, tá! Dá cá, deixa emendá. (Tira um lápis e emenda.) Se bem que semos... Prencipia de novo do prencipio.
Clorindo (no mesmo.) - Senhor Tenente-croné, se bem que semos cri... a n an... crianças... (Chorando.) Mas, seu professô, eu não sou criança... Eu sou menino de escola, mas não sou criança...
O Mestre-Escola (Tomando-lhe o discurso.) - Vacês o que é sei eu... Dê cá isto, que eu memo leio!
Cena XIV
editarO Mestre-Escola, Clorindo, rapazes da escola, Raimundo, Dona Maria
Raimundo (Entrando.) - Oh! que ba... que ba... ba... ba... talhão!
Dona Maria (Ao Mestre-Escola.)- Bons dias, senhor professor. (À parte.) Este não serve. É tão estúpido... (Vai sentar-se no banco.)
O Mestre-Escola - Bons dia!
Raimundo - Então o que anda fazendo com a ra... pa... pa... paziada?
O Mestre-Escola - Nós viemo felicitá o Tenente-croné pela chegada do filho dele.
Dona Maria - Ah! são os seus discípulos?
O Mestre-Escola - Sim, senhora; mas veio só os mais inteligente; os mais burro ficou.
Dona Maria - Aquele barbado também é?
O Mestre-Escola - Também, sim, senhora.
Dona Maria - Credo! que já tem idade para casar! Deve estar bem adiantado!
O Mestre-Escola - Clorindo, chegue-se ali à Senhora Dona Maria e dê umas amostrinha de sua habilidade.
Clorindo (Aproxima-se de Dona Maria e vai a sentar-lhe no colo.) - Sim, senhor.
Dona Maria - O que é isto?
Raimundo - Que... que... que tal?
O Mestre-Escola - Desculpe ele... é costume...
Dona Maria - Pensando bem... que mal havia?
O Mestre-Escola (A Clorindo.) - Vá!
Clorindo Declamando como na escola.)
- “As arma e os barões assinalado,
Por mares nunca dantes navegado
Passaram inda além da Taporbona,
Em perigos e guerra esforçado,
Mais do que permitia as forças humanas,
Entre gente arremota edificárum
Novo reino que tanto assublimárum!”
Dona Maria - Muito bonito! Esse versos foram escritos pelo menino?
Raimundo - Oh!
Clorindo - Não, senhora! Quem me ensinou eles foi seu professô.
O Mestre-Escola - São de Camãos, siá dona.
Cena XV
editarO Mestre-Escola. Clorindo, rapazes da escola, Raimundo, Dona Maria, O Vigário
O Vigário (Entrando.) - Uf! Deixei-os lá a raspei-me! Nada, que o negócio cada vez mais se complica! Falam Todos a um tempo! Ora que o Vigário tinha que ser ouvido e cheirado em quanta questão de família apareça na freguesia! Dona Francelina já teve um faniquito... Dona Leonor dois... (Vendo os circunstantes.) Olé! por cá? O que é isto? A que vem o regimento?
Raimundo - Uma fe... fe... fe... feli...
O Vigário - Felicitação...
Raimundo - Ao Te... te... te... nente co... co...
O Vigário - Ao Tenente-Coronel...
O Mestre-Escola - Pela arribação de seu Ferderico.
O Vigário - Ah!
Dona Maria (Que tem levado a fazer festas a Clorindo.) - Sim, senhor; disse muito bem os seus versinhos.
Raimundo (À parte.) - Versinhos, os Lu... Lu... Lusia... a... das.
O Vigário - Quem, este machacaz? (Clorindo beija-lhe a mão.) Isto é um idiota! já diz versinhos, e a apostar em como não sabe a Ave-Maria de cor!
Clorindo (Muito lampeiro) - Sei, sim, senhô..
O Vigário - Pois dize lá!
Clorindo - “Ave-Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita... bendita...
O Mestre-Escola - Anda, burro!
Clorindo (Continuando.) -... sois vós, bendito é o fruto de vosso ventre, amém, Jesus.”
Raimundo (Batendo palmas.) - Bra...vo! bravo! (Clorindo vai para o seu lugar.- A Dona Maria.) Não lhe... lhe pergunta se... se... aquilo é fei... feito por ... por ele? (Dona Maria sorri. Entra o Tenente-Coronel.)
Cena XVI
editarO Mestre-Escola, Raimundo, Dona Maria, O Vigário, Clorindo, rapazes da escola, O Tenente-Coronel, depois Passos Pereira
O Tenente-Coronel - Ora graças que está tudo líquido! Arre! Custou!
O Vigário - Ainda bem! Chegaram-se Todos às boas, hein?
O Mestre-Escola (Que tem se aproximado, lê com ênfase o seu discurso;) - “Se bem que séjamos crianças...”
O Tenente-Coronel (Sem reparar.) - Houve um quiproquó... O Pinheirinho supunha que o Passos Pereira...
O Mestre-Escola (Que tem mudado de posição, aos ouvidos do Tenente-Coronel.) - “... sabemo compreendê perfeitamente os sentimento parterná!”
O Tenente-Coronel (Que tem se assustado.) - O que é isto?
O Mestre-Escola (Continuando.) - “Todo aquele cujo este não soubé compreendê estas coisa não é home; por isso não podemo nos furtá ao prazê de vi cumprimentá Vossa Senhoria, Senhô Tenente-croné, que neste dia vê restituído nos seus braço o filho que outrora concebeu; por isso aceite Vossa Senhoria, Senhô Tenente-croné...”
Passos Pereira (Saindo de casa a gritar.) - Ora até que afinal nós..
Todos (Impondo-lhe silêncio para não interromper o discurso.) - Psiu! (Dona Maria chama para junto de si Passos Pereira, que obedece.)
O Mestre-Escola (Sem perturbar-se.) -“... um ramo de fulô de cada um de nós por este dia. (Música na orquestra. Pequena desfilada dos rapazes, que, a um gesto do Mestre-Escola, vão entregar, um a um, o seu ramalhete ao Tenente-Coronel, que fica atrapalhado com tantas flores.)
O Tenente-Coronel (Depois da desfilada.) - Agradeço comovido esta manifestação, e convido-os para almoçarem Todos comigo. (Gritando para a casa.) Prepara o almoço pa-mais... uma... duas... três... etc; (Conta quantos são os meninos e diz: ”para tantas pessoas.” - depois retoma a atitude de orador.) Ficará gravado eternamente em meu coração este discurso, onde, imerecidamente, sou mais honrado que a língua nacional.
Raimundo - A... po... poiado!
O Mestre-Escola (À parte.) - Não entendi este final. (O Tenente-Coronel dá um ramalhete a Dona Maria, e entrega Os outros a um negro que os leva para casa.)
Dona Maria (Continuando uma conversa com Passos Pereira, a quem dá uma flor do ramalhete.) - Mas por que não se quer casar?
Passos Pereira (Pregando a flor numa casa do casaco.) - Eu minha senhora? Por uma razão muito simples...
Dona Maria - Qual?
Passos Pereira - Porque sou casado!
Dona Maria (Erguendo-se e deixando cair o ramalhete.) -Pois é casado?
Passos Pereira - Duas vezes, minha senhora.
Dona Maria (Passando à esquerda.) - Ah! Aqui o Senhor Tenente-Coronel enviuvou e... (Passos Pereira dá o ramalhete ao Mestre-Escola. O ramalhete anda de mão em mão até voltar, a seu tempo, às de Dona Maria.)
O Tenente-Coronel - E não me quis casar... Para cuidados bastam os que já tenho! A senhora sim, é que deve casar... não está muito velha...
Dona Maria - E tenho vontade, Senhor Tenente-Coronel; confesso: tenho muita vontade!
O Tenente-Coronel - E depois... tem um dote!
Raimundo - Hein?
Dona Maria (Desdenhosamente.) - Quarenta apólices da vida pública.
O Tenente-Coronel (Frisando.) - Uma casa assobradada na vila...
Raimundo - Hein?
Dona Maria - Afora o que ainda pode vir da minha irmã das Laranjeiras!
O Vigário (Notando a alegria de Raimundo.) - Olhe... aqui o Senhor Raimundo é que... Não toca violão... Toca?
Raimundo - Não Se... Senhor.
O Vigário - Não toca violão, mas é um excelente moço. Casem-se.
Dona Maria - O quê? Pois?...
Raimundo (Dando a Dona Maria o ramalhete que lhe tem chegado às mãos, já escangalhado.) - Con... con.., consente?
Dona Maria - Mundico! (Desmaia nos braços do Vigário, que a quer passar ao Tenente-Coronel.)
O Tenente-Coronel (Esquivando-se.) - Está muito bem nos braços da Igreja!
O Vigário (Passando Dona Maria ao Mestre-Escola, e baixo a Raimundo.) - Case-se e meta-se na política; mas não vá com os conservadores.
O Mestre-Escola (Passando Dona Maria a Passos Pereira.) - Pesa como um pecado. (Passos Pereira atira-a nos braços do Tenente-Coronel.)
O Tenente-Coronel (Passando-a a Raimundo.) - Tome, que isto é seu. (À parte.) Está livre de uma penhora!
Dona Maria (Tornando a si.) - Onde estou?
Raimundo - Nos... nos... nos meus braços.
Dona Maria (Limpando a cara com o ramalhete, pensando que é um lenço.) - Não é um sonho, Mundico?
Raimundo (Limpando-a com seu lenço.) - Não... não...
Cena XVII
editarO Mestre-Escola, Raimundo, Dona Maria, O Vigário, os rapazes da escola, O Tenente-Coronel, Passos Pereira, Frederico de braço dado a Leonor, O Doutor Pinheiro de braço dado a Francelina, depois os negros.
O Vigário - Ah! aqui estão os namorados! mas... expliquem-me!
Frederico - Muito facilmente: eu tinha prometido casamento a Leonor...
Leonor - E eu a Frederico.
O Doutor - E eu a Dona Francelina.
Francelina - E eu aO Doutor Pinheiro.
Frederico - Mas vi Francelina...
Leonor - Mas vi O Doutor Pinheirinho...
O Doutor - Mas vi Leonor...
Francelina - Mas vi Seu Frederico...
Os Quatro (Ao mesmo tempo, dando uma volta.) - E virei!
(O Tenente-Coronel dá ordens a um negro, que se retira.)
Passos Pereira - Acharam-se juntos...
O Tenente-Coronel (Voltando.) - Envergonharam-se.
Frederico - Eu julguei que Leonor estivesse ressentida...
Leonor - Eu, que Frederico me recriminasse...
O Doutor - Eu, que o Senhor Passos Pereira vinha buscar o cumprimento da minha promessa.
Francelina - Eu que O Doutor Pinheiro me tivesse atravessada na garganta...
Os Quatro - E embatuquei!
O Tenente-Coronel - Mas perceberam agora que os desvio de suas promessas... era um deslumbramento; que o amor verdadeiro tem obrigação de ser eterno, como diz o Padre Vieira, e casam-se: Leonor com Frederico e Dona Francelina com O Doutor Pinheirinho...Reviraram. (Dão Todos uma volta.)
Os Noivos (Abraçando-se.) - Com muito prazer
O Mestre-Escola - Não entendo...
O Vigário - Também não é preciso... Os três casamentos far-se-ão no mesmo dia...
Frederico - Três! Qual é o outro?
Raimundo (Apresentando Dona Maria.) - O nos... nosso.
Dona Maria - Eu e Mundico. (Abraços, apertos de mão, parabéns, etc.)
O Vigário - Três casamentos, noventa mil réis.
Dona Maria - Vou escrever à minha irmã das Laranjeiras. (Volta o negro trazendo um violão, que entrega ao Vigário, e uma rabeca, que entrega ao Mestre-Escola.)
O Tenente-Coronel - Vamos a um cateretê?
(Os rapazes da escola fazem uma roda. Entram os negros e fazem outra roda. O Mestre-Escola trepa no banco para tocar rabeca. O Vigário ao lado, com uma perna sobre o banco, toca o violão. Os outros personagens formam uma nova roda no proscênio.)
Coro Final - Quem tem coqueiros tem cocos,
Quem tem cocos tem coquinhos,.
Quem tem amores tem zelos,
Quem tem zelos tem carinhos;
Ai, amor,
Tens mais perfumes que uma flor!
Leonor (Vindo ao proscênio, ao público.)
Vou lhes dizer um segredo
Que não devem divulgar.
Se não gostaram da peça,
Um conselho hão de aceitar:
Saltem ligeiros,
Saltem para cá;
Entrem na dança!
Então! Vá lá!
Pois que não deixa
De ter seu quê
Um requebrado
Cateretê!
(Dançado característico, executado por quantos estão em Cena.)
[Cai o pano]