18 de janeiro
À margem do Tietê, em lugar em que o rio se tornava mais claro e menos profundo, tomavam banho, uma tarde, sete ou oito crianças, de quatro a nove anos, entre as quais uma encantadora menina, a Lili, irmã do Armindinho, que era, no grupo, o mais insuportável e barulhento. Com a inocência peculiar à idade, apresentavam-se todos despidinhos, nadando, mergulhando, pulando, como um bando de golfinhos irrequietos.
O barulho que faziam, era, como facilmente se imagina, ensurdecedor. Entregues a si mesmos, rolavam-se na areia, atiravam-se terra, empurravam-se, nadando, ora de papo para cima, ora de papo para baixo, com as mãos em movimento dentro dágua, no "nado de cachorro", batendo com os pés, na imitação dos navios de roda, ou de barriga para o sol, agitando os braços ritmadamente, como escaleres em marcha pelo impulso regular de dois remos.
Estavam os pequeninos tritões no mais aceso do entusiasmo, quando o Armindinho propôs, gritando:
- Vamos brincar de submarino?
- Vamos! - concordaram os outros, aos pulos, com o busto fora dágua. - Vamos!
Unindo o gesto à palavra, o Armindinho atirou-se à frente dos companheiros, nadando, ágil, de peito para o ar, meio submerso, dando marcha ao corpo com o movimento das mãos debaixo dágua. Imitando o inovador, os outros pirralhos fizeram o mesmo, de papo para cima,, pernas estiradas, silenciosos, como uma verdadeira flotilha de submersíveis.
Momentos depois, de volta à margem, iam repetir a proeza, quando a Lili pediu, nuazinha, batendo as mãos:
- Eu também vou, mano, eu também vou! Sim?
O Armindinho encarou-a, com a superioridade de um oficial alemão, e protestou:
- Não; você não pode!
E virando-se para um dos companheirinhos, explicou, com a maior inocência do mundo:
- Ela não tem periscópio; não é?