A porta estreita e luminosa do Paraíso das jóias, guardado, no céu, pelas estrelas mais miúdas, encontraram-se, pedindo passagem, três colares de pérolas. Ligadas umas às outras pelo fio que as reunira no mundo, as gotas leitosas recordavam, no seu brilho doce, pequenos carreiros de Santiago, inventados pelos anjos.
— Eu — falou o primeiro, — pertenci, na terra, à esposa de um banqueiro. Era uma senhora honesta, e sofredora. Caí do seu pescoço de mármore, e, para não ser pisado pelos homens, vim esconder-me no céu.
— Eu, — suspirou o segundo, — vivi ao pescoço da mais sedutora das criaturas. Era uma formosa moça casada, que pertenceu, de corpo, unicamente ao seu marido. Tal era, porém, a sua graça, a sua tentação, a promessa mentirosa dos seus lábios e dos seus olhos, que os amigos do esposo lhe davam dinheiro, enchendo-lhe a bolsa com as mãos.
— Pois, eu — gemeu o terceiro, — pertenci a uma cortesã. Os seus admiradores compravam-lhe as carícias, e passavam. E cada um, ao passar, deixava um óbolo no seu regaço.
— Cada uma das minhas pérolas representa uma lágrima! — disse o primeiro colar.
— Cada uma das minhas representa uma mentira! — declarou o segundo.
— Cada uma das que me formam, representa um beijo! — murmurou o terceiro.
Nesse momento, abriu-se a porta do Paraíso. E um anjo pequenino, que dela saiu, tomou nas mãos de neve o colar em que cada pérola valia um beijo, e penetrou, com ele, no recinto sagrado, onde as pérolas e os diamantes, os rubis, os topázios, as pedras todas, tocadas pelas mãos de Deus, se mudam em estrelas...