Nos momentos em que a pátria fica a níqueis, a Câmara e o Senado, isto é, os senhores senadores e os senhores deputados, lembram-se logo de diminuir o número de funcionários públicos.
Não digo que se não possa faze-lo; a tal respeito, não tenho opinião.
Diminuí-los ou não, mesmo que eu entre no corte, é para mim absolutamente indiferente.
Noto, porém, que as duas casas do congresso não se lembram, de forma alguma, do que se passa nelas.
Toda a gente sabe que a Câmara e o Senado, têm cada qual uma secretaria, um serviço de redação de debates, uma legião de auxiliares, de contínuos e serventes, e que esse cardume de empregos aumenta de ano para ano. Porque o congresso não começa cortando nas respectivas secretarias, para dar exemplo?
Nesse ponto não se toca, não se diz nada e os empregados do executivo são os mais culpados do déficit.
É uma verdadeira injustiça, tanto mais que os funcionários da Câmara e do Senado têm, quase sempre, além de bons ordenados legais, consideráveis gratificações, sob este ou aquele pretexto.
O povo diz que macaco não olha para o seu rabo; os parlamentares só olham para os dos outros.
Não se lembram que, de quando em quando, vão criando lugares nas suas secretarias, absolutamente desnecessários, tão-somente para atender a impulsos de coração.
Homo sum...
Certamente os senhores devem saber que, antigamente, os atuais diretores de secretarias eram chamados oficiais-maiores.
Pois bem: a Câmara tem na sua secretaria um diretor, um vice-diretor ou dois, e um oficial-maior.
Não é fácil mostrar assim o rol de empregados em duplicata ou triplicata que há por lá. Os regulamentos não falam claro; é preciso combiná-los com indicações, com autorizações camarárias e é trabalho que sempre reputei e reputo enfadonho.
O Diário Oficial foi feito para não ser lido e o congresso não tem mais direitos a melhores atenções.
A observação ai fica, e, enquanto ela quiser imitar qualquer das famosas "secretarias da comissão tal" legisladores extraconstitucionais e sobremodo impertigados nas suas funções, penso, dizia, que os abnegados pais da pátria devem meditar sobre o fato.
Não é só o poder executivo o grande plantador de sinecuras; o legislativo colabora na plantação, na colheita; e, na sua própria seara faz das suas.
Cá e lá, más fadas há; e não é a última vez que torto ri-se do aleijado.
Correio da Noite, Rio, 14-12-1914.