OS DOUS HORISONTES.


A. M. Ferreira Guimarães.


(1863.)


Dous horisontes fecham nossa vida:

     Um horisonte, — a saudade
     Do que não ha de voltar;
     Outro horisonte, — a esperança
     Dos tempos que hão de chegar;
     No presente, — sempre escuro, -
     Vive a alma ambiciosa
     Na illusão voluptuosa
     Do passado e do futuro.


Os doces brincos da infancia
Sob as azas maternaes,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosaes;
O goso do amor, sonhado
N'um olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horisonte do passado.

Ou ambição de grandeza
Que no espirito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gosou;
Ou um viver calmo e puro
Á alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horisonte do futuro.

No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, — taes são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;

     Ao nosso espirito ardente,
     Na avidez do bem sonhado,
     Nunca o presente é passado,
     Nunca o futuro é presente.

     Que scismas, homem? — Perdido
     No mar das recordações,
     Escuto um éco sentido
     Das passadas illusões.
     Que buscas, homem? — Procuro,
     Atravez da immensidade,
     Ler a doce realidade
     Das illusões do futuro.

Dous horisontes fecham nossa vida.