O Jornal do Comércio conta hoje uma trapalhada de exa­mes acontecida na nossa Escola Normal, que as moças confundem com a Escola Normal de França.

Sei perfeitamente dessas coisas de exames; eu os fiz muitos e a única vez que consegui tirar distinção, foi quando fiz exame com uma moça, na mesma mesa, no mesmo dia, por capricho e esforço de vontade.

As moças são habilíssimas nessas coisas de fazer exames; elas sempre têm a matéria na ponta da língua, elas não se preocupam de achar o nexo entre as noções científicas que absorvem o mundo.

A ciência, o saber, a arte, são adornos e enfeites para as suas pessoas naturalmente necessitadas de casamento.

Este caso da Escola Normal, passado entre moças, por demais capazes de atravessarem essas coisas de exame, vem mais uma vez provar que, atualmente, nós vivemos apegados a tolas superstições.

O exame é uma delas, é resto da escolástica, é resto do ensino do grande jesuíta Laynez Swift. O grande e imenso Swift, quando certa vez fazia exame de lógica, sujo, maltra­pilho, mas orgulhoso dele mesmo, os examinadores pergunta­ram-lhe:

— Como é que o senhor raciocina sem a sábia lógica?

— Meu caro senhor, respondeu Jonathan, eu raciocino perfeitamente.

Os exames, os doutores, bacharéis, os médicos, toda essa nobreza doutoral que nos domina e apóia os negocistas, é o maior flagelo desta terra que os utopistas querem seja o pa­raíso terrestre.

Correio da Noite, Rio, 6-3-1915.