Preocupações de outras ordens, não me têm permitido escrever sobre coisas diárias; mas este caso de Niterói, caso do Filadelfo Rocha, fez-me voltar de novo à imprensa quoti­diana.

Eu não me cansarei nunca de protestar e de acusar esses vagabundos matadores de mulheres, sobretudo, como no caso presente, quando não têm nem a coragem do seu crime.

Eu conheço este Filadelfo desde tenente. Sou funcio­nário da Secretaria da Guerra há quinze anos. Ele nunca passou de um tarimbeiro vulgar, feito pelo Floriano oficial. De bajulação em bajulação, foi subindo, até que, com a sua máxima bajulação ao senhor Hermes da Fonseca foi levado a ser comandante da polícia de Niterói.

Ele é quase analfabeto, sem nenhuma inteligência, nunca fez o mínimo esforço mental; entretanto, agora, coberto pelo opróbrio de um assassinato, insinua que o fez porque o seu rival era um simples funileiro. Mas onde foi Filadelfo en­contrar superioridade suficiente para julgar-se mais do que o tal bombeiro? Este Filadelfo ignorante, bajulador, que eu via pelo corredores de Ministério da Guerra a pegar na casaca deste ou daquele graúdo, para não comandar as suas praças, é, por acaso, alguma coisa?

Com essa tatuagem de galões, eles querem fazer das suas, matando as mulheres a torto e a direito. Eu me refiro simplesmente a semelhantes sujeitos. E digo isso, não por covardia, mas em atenção a verdade.

Por exemplo: este senhor Faceiro que, ontem ou anteontem, matou a mulher, porque teve a franca, a franca franqueza orgulhosa de dizer que a sua gravidez era do seu amor e não dele, não me merece a mínima piedade; mas há tantos outros que eu estimo... Adiante.

A mulher não é propriedade nossa e ela está no seu pleno direito de dizer donde lhe vêm os filhos.

Mas a questão não é esta. Eu falava do Filadelfo, do pequenino Filadelfo, a quem eu queria dizer simplesmente que nem ao menos ele teve ou tem coragem do seu crime. Espécie de Mendes Tavares!

Basta.

Lanterna, Rio, 18-3- 1918