phar dos alvedrios hoje a palavra de Deus, nem nascer nos corações, não é por culpa, nem por indisposição dos ouvintes.
Suppostas estas duas demonstrações; supposto que o fructo e effeitos da palavra de Deus, não fica, nem por parte de Deus, nem por parte dos ouvintes, segue-se por consequencia clara, que fica por parte do prégador. E assim é. Sabeis, christãos, porque não faz fructo a palavra de Deus? Por culpa dos prégadores. Sabeis, prégadores, porque não faz fructo a palavra de Deus? Por culpa nossa.
Mas como em um prégador ha tantas qualidades, e em uma prégação tantas leis, e os prégadores podem ser culpados em todas, em qual consistirá esta culpa? No prégador podem-se considerar cinco circumstancias: a pessoa, a sciencia, a materia, o estylo, a voz. A pessoa que é, a sciencia que tem, a materia que trata, o estylo que segue, a voz com que falla. Todas estas circumstancias temos no evangelho. Vamol-as examinando uma por uma, e buscando esta causa.
Será por ventura o não fazer fructo hoje a palavra de Deus, pela circumstancia da pessoa? Será porque antigamente os prégadores eram santos, eram varões apostolicos e exemplares, e hoje os prégadores são eu e outros como eu? Boa razão é esta. A definição do prégador é a vida e o exemplo. Por isso Christo no evangelho não o comparou ao semeador, senão ao que semêa. Reparae. Não diz Christo: Saíu a semear o semeador, senão, saíu a semear o que semêa: Ecce exiit, qui seminat, seminare. Entre o semeador e o que semêa ha muita differença: Uma coisa é o soldado, e outra coisa o que peleja; uma coisa é o governador, e outra o que governa. Da mesma maneira, uma coisa é o semeador, e outra o que semêa; uma coisa é o prégador, e outra o que préga. O semeador e o prégador é nome; o que semêa e o que préga é acção; e as acções são as que dão o ser ao prégador. Ter nome de prégador, ou ser prégador de nome, não importa nada; as acções, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o mundo. O melhor conceito que o prégador leva ao pulpito, qual