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SERMÕES

contrarios, e depois disto ha de colher, ha de apertar, ha de concluir, ha de persuadir, ha de acabar. Isto é sermão, isto é prégar, e o que não é isto, é fallar de mais alto. Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma materia, e continuar e acabar nella. Quereis vêr tudo isto com os olhos? Ora vêde. Uma arvore tem raizes, tem troncos, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem fructos. Assim ha de ser o sermão: ha de ter raizes fortes e solidas, porque ha de ser fundado no evangelho, ha de ter um tronco, porque ha de ter um só assumpto e tratar uma só materia. Deste tronco hão de nascer diversos ramos, que são diversos discursos, mas nascidos da mesma materia, e continuados nella. Estes ramos não hão de ser sêcos, senão cobertos de folhas, porque os discursos hão de ser vestidos e ornados de palavras. Ha de ter esta arvore varas, que são a reprehensão dos vicios, ha de ter flores, que são as sentenças, e por remate de tudo ha de ter fructos, que é o fructo e o fim a que se ha de ordenar o sermão. De maneira que ha de haver fructos, ha de haver flores, ha de haver varas, ha de haver folhas, ha de haver ramos, mas tudo nascido e fundado em um só tronco, que é uma só materia. Se tudo são troncos, não é sermão é madeira. Se tudo são ramos, não é sermão são maravalhas. Se tudo são folhas, não é sermão são verças. Se tudo são varas, não é sermão é feixe. Se tudo são flores, não é sermão é ramalhete. Serem tudo fructos, não póde ser; porque não ha fructos sem arvore. Assim que nesta arvore, a que podemos chamar arvore da vida, ha de haver o proveitoso do fructo, o formoso das flores, o rigoroso das varas, o vestido das folhas, o estendido dos ramos, mas tudo isto nascido e formado de um só tronco, e esse não levantado no ar, senão fundado nas raizes do evangelho: Seminare semen. Eis aqui como hão de ser os sermões, eis aqui como não são. E assim não é muito que se não faça fructo com elles.

Tudo o que tenho dito podera demonstrar largamente, não só com os preceitos dos Aristoteles, dos Tullios, dos Quintilianos, mas com a pratica observada do principe dos oradores evangelicos S. João Chrysostomo, de S. Bazilio Magno, S. Bernardo, S.