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SERMÕES.
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relampago para os olhos, trovão para os ouvidos, raio para o coração: com o relampago alumia, com o trovão assombra, com o raio mata. Mas o raio fere a um, o relampago a muitos, o trovão a todos. Assim ha de ser a voz do prégador — um trovão do céu, que assombre e faça tremer o mundo.

Mas que diremos á oração de Moysés ? Concrescat ut pluvia doctrina mea: fluat ut vos eloquium meum. (Deut. XXXII — 2) Desça minha doutrina como chuva do céu, e a minha voz e as minhas palavras como orvalho que se destilla brandamente e sem ruido? Que diremos ao exemplo ordinario de Christo, tão celebrado por Isaias: Non clamabit neque audietur vox ejus foris? (Isai. XLII — 2) Não clamará, não bradará, mas fallará com uma voz tão moderada que se não possa ouvir fóra. E não ha duvida que o praticar familiarmente, e o fallar mais ao ouvido que aos ouvidos, não só concilia maior attenção, mas naturalmente e sem força se ensinua, entra, penetra e se mete na alma.

Em conclusão que a causa de não fazerem hoje fructo os prégadores com a palavra de Deus, nem é a circumstancia da pessoa: Qui seminat; nem a do estylo: seminare; nem a da materia: semen; nem a da sciencia: suum; nem a da voz: Clamabat.[1] Moysés tinha fraca voz; Amos tinha grosseiro estylo; Salomão multiplicava e variava os assumptos; Balaão não tinha exemplo de vida; o seu animal não tinha sciencia, e comtudo todos estes fallando, persuadiam e convenciam. Pois se nenhuma destas razões que discorremos, nem todas ellas juntas são a causa principal nem bastante do pouco fructo que hoje faz a palavra de Deus, qual diremos finalmente que é a verdadeira causa?


IX.


As palavras que tomei por thema o dizem: Semen est Verbum Dei. Sabeis (christãos) a causa por que se faz hoje tão pouco fructo com tantas prégações? É porque as palavras dos prégadores são

 
  1. Exod. 4. 10. Voce gracili juxta LXX. Amos 1. 1. Ecclesiastes 1. et deinceps num. 22. et 23.