102 | 40 anos no interior do Brasil: aventuras de um engenheiro ferroviário

do mestre de obras tratar do assunto na cidade pacificamente. Não, eles queriam tocar fogo na sede da companhia e se necessário na própria cidadezinha. Eram mais ou menos 300 homens que estavam berrando. Meu amigo os olhava fixamente e recusava-se a acompanhá-los, visto que queriam ir armados. Sabia muito bem que se permitisse não teria mais controle sobre eles, ainda mais se conseguissem arranjar cachaça. Aí um deles jogou em sua cara que ele havia sido oficial alemão e que devia tratar de cumprir sua palavra. Então ele se endireitou, disse “bom, honrarei minha palavra e irei junto, se me for possível, vou me preparar!”, e entrou na casa.

O pessoal se regozijou de alegria. De repente um tiro vindo de lá! Todos ouviram. A esposa do mestre de obras correu pálida para fora e gritou “seus desgraçados, meu marido se matou!”, e retornou desolada para dentro. Começou um tumulto geral, alguns correram ao médico, outros tentaram penetrar na casa, mas a esposa corajosa só permitiu a entrada de alguns. Meu amigo estava deitado no chão, o sangue corria de seu peito; deitaram-no em um sofá, tiraram sua camisa, derramaram um pouco de água em seus lábios e cada um sugeriu uma coisa. Finalmente o médico chegou e fez uma cara séria quando viu que a abertura do tiro era do lado esquerdo, na altura do coração. Então ele o auscultou e sacudiu a cabeça.

“O que foi? O que foi”

“O coração está batendo normalmente, não consigo entender!”

“Mas então onde foi parar a bala?”

O médico estava examinando o lado esquerdo do baleado quando esse teve um sobressalto; então pôs seu dedo um pouco para trás, virou o corpo, tateou de novo e de repente sentiu uma elevação, e quando tocou nela o corpo se contorceu novamente.

“Rápido, virem-no!” Ele abriu sua maleta, tirou um pequeno bisturi, fez um pequeno corte, pressionou e a bala estava em sua mão!

O mestre de obras se curvou para atirar, tanto que as costelas se uniram; além disso, a direção do tiro foi um pouco para o lado, por isso a bala