A Libânia queixou-se um dia de dor de dentes. Foi uma inspiração. O Veríssimo resolveu fazer-se dentista, e foi estudar com o Pinac, à Rua de Santo António, um bom homem. Andava neste tirocínio, quando encontrou no Tívoli, defronte da Biblioteca, o Nunes. A Libânia gostava muito de resvalar pela montanha russa, dava umas risadas argentinas, batia as palmas e queria montar os cavalos de pau que giravam no jogo da argolinha.

Quando se encontraram, o Torcato vinha pedir-lhe dinheiro. O pai tinha morrido, deixando a casa ao outro irmão. Estava casado, e tinha dois filhos. Queria ir tentar a fortuna ao Brasil, trabalhar em mangas de camisa, se fosse necessário. O Veríssimo respondeu-lhe que o único favor que lhe podia fazer era tirar-lhe um dente de graça. Confidenciou-lhe as suas misérias mais íntimas; que aquela boa rapariga tinha gasto com ele quinze moedas e vendera o seu ouro; mas, tão generosa, tão honrada que nunca lhe vira no rosto uma sombra de tristeza. Que estava