A sobrinha reformara aquela natureza aleijada. Talvez o desdém com que Marta o tratava na crise da sua paixão, fosse grande parte no amor do brasileiro. Além disto, a moça, muito parecida com ele na delgadeza das formas, tinha encantos que dispensavam a esquivança para se fazer amar de um homem de quarenta e sete anos — intacto demais a mais. O presente que lhe fez de uma meada de cordões de ouro significava uma desordem, pelo menos interina, na sua condição sovina. Marta aceitou a dádiva sem entusiasmo nem alegria. Lembrava-se que o pai a prevenira da possibilidade de ser mulher de seu tio, se adregasse gostar dela. Quando o tio lhe deu os cordões, teve-lhe uma náusea, um quase-ódio, suspeitando-lhe os projectos; e quando ele fugiu para o Porto, com medo às guerrilhas, sentiu ela uma satisfação incomparável. Entretanto, apesar das más informações do brasileiro da Rita Chasca, o Feliciano sentia filtrar-selhe nas células impolutas do coração o veneno doce de uma paixão cheia de condescendências, pouco superciliosa em pontos de honra, como quem pensa