decente aconselhava que Feliciano ignorasse as tentativas adúlteras do demónio incito, figurado na pessoa espectral do José Dias. Com o vigário de Caldelas foi menos reservado o exorcista. Asseverou-lhe que a brasileira de Prazins estava possessa, muito gravemente energúmena. O padre Osório abriu um sorriso importuno, destes que vêm de dentro em golfos involuntários como a náusea de um embarcadiço enjoado. O egresso reparou no trejeito herético da boca do padre, e perguntou-lhe se tinha alguma dúvida a pôr.

— Uma pequena dúvida, Sr. Frei João — respondeu intemeratamente o vigário. — Não posso aceitar que o Diabo, sendo filho de Deus, seja o ente perverso que faz sofrer a pobre Marta...

— O Diabo, filho de Deus! — interrompeu o varatojano, levando as mãos enclavinhadas à testa. — Padre Osório, o senhor disse uma blasfémia enorme... Santo nome de Jesus! O Diabo filho de Deus! Anátema!

—Anátema à lógica, ao raciocínio, portanto! — contraveio sereno e risonho o outro.

— A lógica? a lógica de Calvino, de Voltaire.