me permite, ouso dizer-lhe — para nos esquivarmos ambos às insídias da crítica portuguesa — que a demência de Marta não é extremamente original nem o meu romance uma singularidade incontroversa. O que, sem disputa, é original, é duvidar eu de que o sou.

Num Conto de Charles Nodier, autor remoto que se perde no crepúsculo da literatura arqueológica, há uma LÍDIA que endoideceu quando o marido, um barqueiro de limpo nascimento e generosa índole, pereceu num incêndio salvando três crianças e sua mãe.

Lídia enlouquece e cuida que seu esposo está no Céu de dia e a visita de noite. Ela, desde o repontar da aurora, sai ao jardim, e colhe flores para o brindar quando ele desce do azul com asas de penas de ouro. Ao cabo de seis anos deste sonhar delicioso, a ditosa doída, quando andava a recolher as flores dilectas para o bouquet das núpcias com o anjo de cada noite, sentou-se em dulcíssima sonolência e expirou.

As analogias de Lídia e Marta frisam pela