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A CONFEDERAÇÃO DOS TAMOYOS.

No humano coração, a crer propenso
Sempre em tudo que é máo; um tal boato
Pelos sertões voando, e logo crido,
Alvoroçava os animos dos Indios,
Que em chusmas vinham p’ra matar os padres.
E até Parabuçú, que longe estava,
Correo a Iperohy, dos seus seguido;
E inopinado entrando na cabana
Que abrigava os dous santos eremitas,
Os achou de joelhos, co’as mãos postas;
E suspenso ficou, vendo esses corpos
Que o continuo jejum emmagrecera;
E essas mãos descarnadas, e essas faces
Pallidas, transparentes como a cêra
Que se queima no esquife dos finados;
E com pasmo os olhava. A voz erguendo,
Calmo lhe disse Anchieta: « P’ra que tantos
E armados contra duas creaturas
Fracas e sem defesa? Uma criança
P’ra tirar-nos a vida bastaria!
Eia, Parabuçú! Eis-nos immoveis;
Bem nos podes matar como quizeres. »