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Uma revolução na floresta
 

 

Principios do outono.

Eu estava no Estoril.

O ceu mostrava-se sombrio, concentrado, triste.

Havia em toda a naturêsa um silencio de solidão, aspectos de imobilidade que lembravam a morte, rumores vagos, longinquos, semelhantes a estertores de agonias misteriosas.

Sentia-se um desfalecimento geral, o coração oprimia-se sob o peso indefinivel d'aquela tarde sem luz, subiam lagrimas aos olhos, sem se saber porquê, numa tão surpreendente melancolia, que chegava a lembrar que a alma se diluia nelas, para reentrar pela evaporação do infinito.

Que horas eram? duas, quatro, sete? Ninguem o saberia dizer, tão crepuscular e constante se mostrava aquele dia de sombras, revestido de uma terrivel mudês.

No meio da pavorosa imobilidade cosmica que me cercava e abatia, senti necessidade de movimento e sahi de casa para espairecer o meu aborrecimento.