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A dança do destino
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Levantei-me, caminhei para o balsedo e puz-me a escutar.

O fragor era cada vez maior e mais distinto, dando-me a impressão de uma revolução de insectos.

Investigava minuciosamente os arredores do campo de batalha, onde parecia que se estavam ferindo truculentos combates, quando deparei com um gafanhoto tranquilamente sentado sobre uma pinha, escutando como eu atentamente, mas com o olhar fixo mum ponto do mato que eu não tinha podido descobrir.

Num dado momento, como eu tossisse, voltou a cabeça e vendo-me a olhar para êle, levantou-se com o ar mais distinto, e num grande aprumo de educação, cumprimentou-me respeitoso, conservando-se de pé, mas sem perder de vista a ação que se travava nas profundêsas da balseira.

Compreendi logo que estava na presença de um gafanhoto educado, pertencente á élite da sua especie, e tive pena que êle não falasse, para me explicar a terrivel ingresia que punha em sobresalto a solidão do pinhal.

Ia para me retirar, quando êle me dirigiu a palavra, parecendo ter adivinhado o meu pensamento:

— V. Ex.a não tem curiosidade de ver o fim?

— O fim de quê? — perguntei num sobresalto, mais de curiosidade pela solução de aquelo enigma, do que de espanto por ouvir um gafanhoto falar a linguagem humana.

— Mas então o que vem a ser isto?