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A dança do destino
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daço de pão, as fadigas e desalentos afogados numa cama de lama, vento dos infortunios a revolver-lhe coleras na alma, o corpo ardendo em febre, o desespero queimando-lhe o coração e o pensamento, para recomeçar no dia seguinte, continuar todo o mez, todo o ano, durante a vida inteira!... E sempre a mesma agonia confusa e dilacerante, sósinho no mundo, — atomo perdido na imensidade, miseria levada numa onda, farrapo despresivel, desfiado pelas procelas — o fato em frangalhos, os cabelos em revolta, nos olhos a vizão da morte, na boca, de labios lividos, o riso amargo da desgraça.

O que é uma vida assim? Uma nausea da creação, um borrão no infinito, a boca do misterio abrindo-se em abismos, o universo curvando-se numa noite eterna!...

Mas porque era isto, assim, para elle?

Porque é que a sua vida havia de desenvolver-se em circulos escuros, tenebrosos, infernaes, e a dos outros, de tantos para quem a vida é uma festa permanente, havia de decorrer em circulos de luz e jardins de rosas, regalos do corpo e gosos da alma, todos os prazeres que o mundo tem, todas as aspirações e afagos que inebriam?

Porque esta odiosa distinção, esta desegualdade monstruosa? Não era um homem como os outros? Porque não tinha, então, um logar na vida como êles?

Pela mesma razão, meu pobre revoltado, porque nasceste homem e não mulher, porque o teu cabelo é preto e não é loiro, porque não és absolutamente