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A dança do destino
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Para duas cousas apenas:

A primeira, para perguntar aos senhores livres pensadores, áquelles que, por fortuna, não são susceptiveis de pensar em mais cousa alguma, por que se obstinam em destrnir na alma do povo ingenuo e simples, em arrancar das almas ignorantes ou desgraçadas, essa crença que receberam, na infancia, dos labios d'uma mãe, e que é uma força e uma salvação, uma força contra si mesmos, um dique aos impulsos animaes, e um balsamo, uma esperança, para as suas dores, para os seus desesperos, contra os quaes o atheismo é impotente, tão inerte e vasio de consolações é o seu negativismo!...

O vacuo a querer substituir-se à fé das almas, o nada a querer substituir a idea do Infinito!

 

A segunda é para pedir ao Estado, ao Governo ou á entidade a quem competir, que mande construir nalguns pontos da capital, — nesta cidade de marmore e de granito, onde ha desgraçados que dormem entre pilhas de madeira, ao longo do Aterro, nos bancos das praças e das avenidas, na cantaria dos portaes ou nos degraus das igrejas, à chuva e ao vento, abandonados a todas as intemperies, — uns albergues publicos, à semelhança dos que existem em Lourdes, para abrigo de peregrinos. Vastas casas de tétos altos, bem ventiladas, d'um só pavimento, providas de bancos largos e polidos, onde ossos engeitados da vida, que são nossos irmãos, vão encontrar um pouco de repouso para os seus magoados