bancaria, um esconso que servia para arrecadações, tapado com um reposteiro de chita encarnada.
Foi ahi que os dois rapazes se esconderam.
Num dado momento, a campainha soou, anunciativa, impondo silencio.
As conversas cessaram, todos os olhares se dirigiram para a meza, e Mario e Arthur, cada um de seu lado, espreitando pelas aberturas formadas pela estreiteza da cortina, puderam observar tudo, sem serem notados nem presentidos.
O pae de Arthur, de pé, em atitude soléne, as mãos ambas espalmadas sobre a meza, pesando com o olhar, baixo e profundo, a alma do pequeno auditorio, soltou as primeiras palavras do seu discurso, com voz cava e rouca, quasi tétrica:
— Lá fóra o sol ilumina a terra, e a sua luz cobre, por igual, todos os homens. Todavia, nós estamos mergulhados na sombra, a nossa vida decorre em trevas perpetuas, porque, gente má e pérfida, nos rouba o nosso quinhão de sol, o nosso quinhão de luz, o nosso direito à vida. Éles disseram: isto é nosso, fiquem vocês com o resto: e o resto era nada! Uma mentira, uma burla, uma infamia! E nós ficamos sem cousa alguma, e êles ficaram com tudo; êles têm sobejos, nós só temos faltas; para êles todos os confortos, todos os prazeres, todas as alegrias; para nós só as dores, só a miseria, só as lagrimas!...
Isto póde ser? Não! O mundo é de todos, todos teem direito á vida. Portanto não ha meu nem teu: tudo é nosso.
Pela assistencia passou um frémito de comovido