Semanario — A esperança
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Reconhecimento
A F. M. de Sousa Viterbo

Bem haja o cavalheiro que veio fazer recordar-nos da época feliz em que os Magriços sahiram a campo para defender as damas; elles com a espada em punho, este com a mimosa penna que não tem menos valor.

Podemos agora as damas com menos timidez erguer a fronte e com mais animo lançar mão da penna.

Bem m'o dizia o coração!.. bem me prezagiava elle que não ficariam sós e indefezas, sem que viesse alguem em soccorro do sexo brando.

Quanto te estamos agradecidas! As tuas palavras são como o orvalho do céo que faz produzir a terra fructos deliciosos; assim ellas em nosso espirito abatido pelo resentimento farão talvez produzir alguma nova composição.

Bem hajas desconhecido defensor; se é que são desconhecidos os genios que adejam juntos pelas regiões ethéreas, ora na terra entre as solidões do mundo, já nas noites de lua á beira mar, nos dias de tristesa á sombra de cyprestes que cercam a campa d'algum ente querido...

O que devo dizer, é que se algum pequeno merecimento tivessem os escriptos que tenho dado á luz da publicidade, ficaria agora demasiado recompensada com o — Estimulo que me dirige, F. M. de Sousa Viterbo, pel que lhe será eternamente reconhecida quem é muito sua.

Porto 17 d'abril de 1865,

Veneradora e obrigada.

 

Maria Adelaide Fernandes Prata.

 

 
O Gremio Litterario Portuense

Alguns mancebos d'esta cidade, distinctos pela nobresa do talento, propozeram-se crear uma associação litteraria. A idéa não é nova. Mas, porisso, não deixa de ser menos honrosa para os que a pozerem em pratica. Não é menos honrosa, por haverem de luctar com difficuldades, que teem feito desfallecer a muitos que se atreveram a tental-a em tempos atrazados. Uma empresa nova contém sempre em si um não sei que de mysterioso, que arrasta e seduz o vulgo, avido de sensações. E no seculo actual, cujos dias se contam pelas creações da industria e do saber humano, mórmente, se torna necessaria a satisfação d'esse desejo, que arrasta as multidões, escurecendo com o brilho d'hoje o que abrilhantára os annaes do dia d'hontem. A idéa que se pretende realisar em factos, não é como já dissemos, dotada da novidade, que attrae. Será preciso mais exforços, por consequencia, para chamar em volta de si os soldados que se devem alistar, sob tão honrosa bandeira.

As associações litterarias são já muito antigas, mesmo entre nós. No tempo de D. João V d'esse monarcha, a quem era mais aprazivel a reza d'uma novena de qualquer santo obscuro do calendario, do que a leitura d'uma nota diplomatica de seus embaixadores, formaram-se varias associações e entre ellas a Academia Real de Historia, celebre pelos muitos cartapacios, que deu á luz, entre os quaes se notam comtudo, alguns trabalhos de primôr, mau pezar escurecidos por uma linguagem, resaibada de gongorismos.

Desprestegiada a idéa, por falta de modernismo, ninguem tão insensato deixará, porém, de avaliar o merecimento dos congressos litterarios, debaixo de qualquer fórma, quer temporarios, quer fixos. Provas cada vez mais exuberantes se vão tirando de dia em dia, para mostrar a utilidade de tão respeitaveis corporações. Os serviços prestados pela Arcadia, cuja ultima porta se fechou, depois do sahimento funebre do Bin-

Primeiro Anno — 1865
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