mo o homem e tivesse os mesmos louros que elle.

E' pois nobre o talento da mulher, que hoje escreve, por que ella na historia da litteratura patria não encontra modelos do mesmo sexo, que a incitem a grandes nem a pequenos commettimentos. Não houve no passado, uma mulher que escrevesse bem, em Portugal. Não se encontra um só nome feminino no bosquejo historico da litteratura classica portugueza. Roma teve tambem a mesma sorte. Só na terra, que fôra o berço da litteratura universal, é que a mulher a soubera tambem bafejar com o vivificante anhelito do seu espirito. Houveram umas poucas de mulheres gregas, que escreveram bem. Appareceram, então, as matronas poetisas.

Praxilla, Telessilla e Corinna, que cinco vezes vencêra Pindazo nos certames poeticos. Na actualidade, é que os talentos femininos florescem, em Portugal. Devem, pois, transformar a sua camara em atheneu e aprenderem na muda lição dos mestres classicos. Se a mulher póde, porque não ha-de juntar á poesia da sua missão sobre a terra, um talento que a engrandeça duas vezes?.. Não se vê uma mulher de sorriso angelico, de olhos languidos, de cabellos louros, mas.. que tem as faculdades intellectuaes anuviadas pela noite da ignorancia?..

Não temos nós visto uma amante dedicada, uma esposa extremosa, uma terna mãe, que... tem a infelicidade de ser um ente analphabeto?..

A mulher não deve só divinisar-se pela belleza, nem por a puresa de seus sentimentos, mas tambem pela instrucção quando não seja pelo talendo. Dizia o padre Vieira que — as formosuras mortaes no primeiro dia agradam, no segundo enfastiam; são livros que, uma vez lidos, não têm mais que lêr — Quando a esponja do tempo lavar do rosto da mulher a formosura, deve-lhe ficar a belleza do espirito...

Agora, o que eu desejo é que v. exc.a concorde comigo em que, as mulheres podem e devem escrever, porque a maioria dos homens literatos não as critica; que a mulher deve dar de mão ás criticas infames das almas mesquinhas. E por ultimo só quizera que v. exc.a acreditasse que não houve intenção nas palavras que lhe dirigi no numero 13 d'este jornal. As minhas observações eram filhas das minhas idéas.

De v. exc.a
respeitoso venerador

Alberto Pimentel.


 

 
se me lembro de ti?..
A. C.

Se me lembro de ti?.. tu lembras tanto
a quem te viu sómente a vez primeira,
como ao viajor que passa no deserto
lembra a sombra dos ramos da palmeira.

Se me lembro de ti?.. ai! só se esquece
da pura languidez dos cilios teus,
quem se esquece do brilho d'uma estrella,
que revéla, tremendo, amor nos ceus.

Se me lembro de ti?.. só te olvidára
— nesga do ceu em carcere profundo —
quem no seio de mãe pouzar não fora
para ir beijar o coração do mundo.

Se me lembro de ti?.. quando recordo
uma nota de tuas meigas fallas,
descubro novos mundos de harmonia
e vejo a terra envolta em novas galas.

Se me lembro de ti? quando em ti penso,
julgo ver no meu ceu mais uma estrella,
mais uma corda nova em minha lyra,
mais um vento sonóro a vir tangel-a.