Da donzella a voz suave
Imita um coro divino:
E' como a nota de um hymno
Que se eleva ao Creador.
― Escuta ― diz a donzella,
Fitando os olhos na lua ―
Té à morte serei tua;
Hei-de amar-te até morrer! ―
Elle responde: ― Ah! mal sabes
Que feliz sou n'este instante!....
Como sinto palpitante
O meu seio de prazer!....
Sepulto n'um mar de trevas,
Da minha fè renegara!
Tudo quanto outr'ora amara
Com rancor eu despresei!
Mas teus encantos, Virginia,
São o signal da bonança!
De novo brotou a esp'rança!
Amo a Deus que injuriei! ―
Então callaram-se as vozes...
Ouviu-se um beijo... mais nada...
A virgem era osculada
Por ser amante feliz...
Depois em morno silencio.
Tudo ficou sepultado:
Só o amante extasiado
A Providencia bemdiz!
A. Q.
Podeste ó mãe cruel abandonar
O filhinho que à pouco era em teu seio,
Banil-o de teus braços, n'uma estrada,
A'mercé dos que passam ir arrojal-o?!
Não tremeste insensivel! Na tu'alma.
Não te acusou a voz da natureza?!
Lá dentro não sentiste o amor subido,
Esse amor privativo só de mae?
Não te pulsou mais forte o coração?
Não te estalou de dôr o peito insano
E deslisar dos olhos não sentiste
O pranto, quando o filho comtemplaste?
Olha as féras terriveis como animam
Os filhinhos que ao peito seu conchegam!
E tu sendo mulher, tornaste um mons!ro
Peor que o tigre féro, ou que o leão!
Da natureza horror! Desdouro eterno.
Da raça que o senhor formou humana!
P'ra teu erro encobrir, expões sem dó
O pobre innocentinho a incerta sorte!..
Queres que mãe adoptiva vá prestar-lhe
Os carinhos que a sua lhe negou?!
Ah! Corre, arrependida, vae tomal-o
Nos braços e depois ufana, ao mundo
Apresenta-o sem pejo que esse nome
De filho t'endemnisa da vergonha
Que sentes por não ter um pae que dar-lhe.
Maria Adelaide Fernandes Prata.
Ill. mo Snr. Redactor da Esperança . ― A vontade que tenho de ver prosperar o jornal que v. tão dignamente redige, me faz dirigir-lhe esta poesia que um novo poeta que agora apparece em Coimbra me enviou. Como uma estreia é sempre a recordação mais doce da vida, desejava que ella fosse em um jornal que tantas sympathias merece. Demais este nome de Esperança
é um
pressagio animador.
Seu attento venerador.
Theophilo Braga.'

offerecida a
Mademoiselle Leonide Plantier
Aucun de mes souvenirs ne s'efface:
il n'est pour eux ni age ni viellesse.
Edgard Quinet ― Ahsverus troisieme journée.
Tout etait hymen, bonheur, douceur, clemence:
Tant ces immenses jours avaint une aube immense!
Victor-Hugo ― Legende des Siecles.
Mesmo
agora sumiu-se a minha estrella
E com ella fugiu minha ventura;
Mais longe, porém foge o lume d'ella
Mais perto sinto arder a chamma pura.
Era tão fulgurante e meiga e bella
Que mesmo agora longe inda fulgura;
Hoje, porém, por não poder já vel-a,
No mundo palpo e vejo a sepultura!
Fiado em seu amor viver consinto;
Fiado d'essa estrella na brandura
Da vida guardo o lume quasi extincto.
Assim a sei amar; será loucura,
Mas embora o presinta, tambem sinto,
Que este meu mal, é mal que não tem cura!!