Amo quem ama como eu
Os vergeis, a lua, o sol,
A noute, o mar, as estrellas,
Da manhã lindo arrebol.
Maria Adelaide Fernandes Prata.
Virginia contava dezeseis annos.
Foi d'essa idade que começou a experimentar as desagradaveis consequencias que traz comsigo um amor insensato.
Fôra passar alguns dias a casa d'uns parentes que tinha em Villa Nova d'Gaya; e alli tomou conhecimento com Alberto, formoso mancebo filho d'um abastado proprietario d'aquella villa.
Costumada a vel-o todos os dias, sentiu que uma força irresistivel a attrahia para elle; porém, a essa affeição dava ella ao principio o nome de sympathia.
Tendo de voltar para casa de seus pais um secreto pesar a atormentava; e suas faces até então rosadas, estavam agora pallidas e abatidas.
O mancebo, tendo reconhecido na ternura com que ella fitava sobre elle os seus lindos olhos azues, a chamma que começava a atear-se com força no peito da joven, procurou occasião de fallar a sós com ella; e, dando a todos os seus gestos, expressão d'um amante apaixonado, assim começou:
― Então v. exc.a vai em breve deixar-nos?
― E' verdade. ― respondeu Virginia suspirando. ― Já o sabia snr. Alberto?
― Já sim, minha senhora... Já me tinham dado essa desagradavel noticia...
― Desagradavel?! ― disse a donzella lançando-lhe um olhar fascinador.
― Desagradavel, sim minha senhora; porque não sei quando tornarei a ter a felicidade de a ver... Se ao menos v. exc.a me consentisse fazer-lhe uma confissão franca dos sentimentos que me animam...
A donzella, cuja unica ambição era ser amada por Alberto, em lugar de moderar a sua paixão ainda mais a excitou, permittindo que o mancebo lhe fizesse a declaração d'um amor que elle dizia verdadeiro.
Julgou então que já não havia infelicidade para ella n'este mundo.
No dia em que se retirou para a cidade fallou com Alberto, indicando-lhe a rua enumero da casa aonde morava, e pedindo-lhe que passasse por alli todas as vezes que podesse.
Alberto estudava mathematica na Academia Polytechnica, e por esse motivo vinha todos os dias á cidade.
Foi-lhe facil, portanto, satisfazer o desejo de Virginia.
Todos os dias passava a hora certa pela rua de Bellomonte; e Virginia todos os dias e a mesma hora apparecia á janella.
Mas, desgraçada! mal sabia a pobre menina que aquelle a quem votava um amor sem limites, ia rir-se com os seus amigos á custa d'ella.
(Continua.)
Oh! que celeste jubilo
Eu sinto no meu peito,
Ha tanto tempo affeito
No mundo a padecer!
Porém, oh sorte rispida,
Que ha tanto me persegues,
Que eu libe não me negues
A taça do prazer!
Tu és, irmã o symbolo
Da dita, da ventura,
Que vem minha amargura
E dôr alliviar!
Um teu olhar benefico
Ou terno meigo riso
Vem dar-me o paraizo,
Feliz me vem tornar!
E n'este dia explendido,
Que surge bonançoso,
Eu venho respeitoso
Beijar-te as niveas mãos
Pertendo tributar-te
E, jubiloso interprete,
Emboras, que sagrar-te
Desejam teus irmãos!
Augusto Queiroz.
Janeiro — 1865.