Amaral ia furioso. Tinha conhecido de longe Maximino, e para não ser d'elle reconhecido encaminhou-se para a casa onde Maria Isabel estivera. No sitio em que era preciso deixar a estrada, parou, e olhou para trás. Avistou ao longe o seu criado Damião, que vinha para elle; esperou-o, e disse-lhe:
― Então, mariola, que ha de novo?
― A rapariga, snr. barão, lá fica guardada por quatro galfarros. D'alli é perder-lhe o sentido.
― Tratante! se tu tivesses sido mais previdente!... Mas que diabo será aquillo?! Entrou gente na nossa propriedade. Será a justiça d'el-rei que irá procurar a nossa fugitiva?
― V. excellencia não viu roupas feminis? A justiça não anda de saias.
― Eu não vi senão gente.
― E porque está com as vistas perturbadas pela cholera. V. excellencia não devia agoniar-se tanto, quando perde uma mão; ganha tantas!...
― Mariola!.... queres-me pôr de boa avença. Vae vêr quem são aquelles hospedes que nos chegam em hora tão aziaga... Mas não, quero eu mesmo tirar as informações.
Adiantaram-se. O pequeno José foi o primeiro que encontraram no pateo.
― Quem entrou para cá? Perguntou Amaral.
― Foi um fidalgo com uma linda fidalguinha.
― Linda? e procura-me a mim?
― Parece que sim.
― Eu bem dizia a v. excellencia, apressou-se de dizer Damião em ajudando seu amo a desmontar, que se v. excellencia perde uma mão como bom jogador, ganha uma duzia.
― Amaral, sorriu-se.
Saía da casa um mancebo que lhe disse:
― V. excellencia é que é o snr. barão?
― Assim me chamam agora.
― Pois snr. barão, servime da casa de v. excellencia porque foi a primeira que achei mais á mão para dar alguns momentos de descanço a uma menina que viaja comigo.
― E que é essa menina ao senhor!
O desconhecido sorriu-se, e replicou:
― E' minha mulher.
― Sua esposa ligitima?
― Não esperava do senhor barão tantos escrupulos. O que me acabou de contar um rustico d'uma menina que fugiu agora d'esta casa, fazia-me esperar de v. exc.a mais indulgencia para as fragilidades alheias.
― A minha gente é discreta! ― murmurou Amaral carregando as sobrancelhas, mas logo replicou com ar alegre:
― Essa menina que fugiu d'aqui, é minha pupila.
― Pois tambem a que me acompanha está debaixo da minha tutella.
― Então póde tambem fugir-lhe, e não quero depois que se queixe da minha casa.
― Não fugirá. Prendi-a bem antes de trazel-a comigo.
― Prendeu-a, como?
― Com as prisões d'amor que são as mais fortes.
― Até a prender com os laços do himeneu?
― Sim, meu senhor.
― Então é ella rica: se o não fôra não que-