da realesa seductora, mas ephemera d'aquelle momento, assignalada nos triumphos de cada victoria, e nas ovações dos vencidos, não deixará sem violencia esse throno de que tomou posse; o sceptro ser-lhe-ha feito pedaços nas mãos, antes que o deixe cahir!
E o homem terá de sustentar essa lucta no interior de sua casa, e esmagar passo a passo essa força que elle proprio preparou, para não abdicar a dignidade do seu poder.
Eis uma grande contrariedade para elle, e a primeira decepção para ella, que vê fender-se-lhe nas mãos, o prisma por que antes olhava o casamento.
Que auspicioso não começa este consorcio!!
Desde um tão solemne momento, datam todas as desordens, todas as dissenções entre os dois.
Ambos fatalmente illudidos, haviam seguido a miragem feiticeira de suas esperanças, caminhando juntos, de mãos dadas, para o mesmo abismo!
O homem encontra na mulher que escolhera para companheira de seus dias, o idolo da sociedade sim, mas o vacuo da familia; a par de tantos attractivos que brilham em uma sala, nem uma só das virtudes que erradiam como estrellas, nos horisontes do casamento!
A mulher, lisongeada, festejada e adulada, antes em seus mesmos defeitos, pelo homem que elegera d'entre tantos que a incensavam, desmaia com os primeiros rigores, acusa de tyranno, quem outr'ora lhe parecera submisso escravo, e procura, por suas mãos, os espinhos dolorosos, que hão-de feril-a até á mais recondita fibra do coração.
Aborrecendo a familia, odeando o viver domestico, continúa a procurar na sociedade com que encher esse vacuo da alma, outr'ora affeita ás alegrias do triumpho!!
Que ha-de fazer o marido? Não foi elle que preparou passo a passo a queda de sua esposa!!
Se não podia ou não queria sustental-a no pedestal a que a elevou, para que a fez assim subir? Soprou-lhe a vaidade, ateou a chamma, e agora quer com algumas gôtas de gelo apagar o incendio!!
Ainda hontem lhe chamava, seu anjo idolatrado, rainha de sua alma, senhora de sua existencia; hoje simplesmente sua mulher, ámanhã sua escrava talvez!!
Hontem ajoelhava elle nos degraus do throno, hoje corre-se a cortina, atraz fica a sociedade, entra-se na familia, e logo ao entrar, é ella que ajoelha, elle que sobe!
Trocaram-se os papeis, a rainha torna-se vassalla, o cortesão faz-se adorar como rei!
Mas jámais uma realesa cahiu sem lucta, jamais uma corôa baqueou sem ruido! Está pois começado o combate, e combate renhido, porque as hostilidades se renovam todos os dias, todas as horas e todos os instantes; guerra de embuste e traições!!
Quasi sempre o homem vence, sim; mas vence pela força, o que com brandura, facilmente conseguia, sendo-lhe, por ventura, mais agradavel e menos prejudicial.
D'aqui nasce um viver particular para cada um; aquelles dois espiritos já se não comprehendem, não podem portanto associar-se.
Póde dizer-se que na mesma casa, habitam duas familias estranhas, que só se cortejam apenas, e na sociedade se fallam e se procuram com a franqueza de antigas e intimas relações.
Depois, novas diffiucldades e tropeços lhes adveem com os filhos; a mãe segue o caminho da esposa, e estes angelicos innocentesinhos, fadados para o porvir da familia, em vez de trazerem alegria e bençãos á casa paterna, como enviados do Senhor, mais tedis e desconforto acarretam para a seio dos seus.
Como a mulher perdeu o coração da esposa, a má esposa perdeu o coração de mãe, se não ha ahi balsamos do céo que a rehabilitem, dando-lhe novo baptismo de esperanças e amor!
O orvalho celeste, não desce até o calix da flôr, se as petalas o absorvem!
Agora uma terceira pessoa é necessaria entre os esposos: a ama.
Pobres anjos desherdados do coração de sua mãe, refugiam-se no seio d'uma estranha, que os alimente e acaricie!
Mas se, crescendo, se affeiçoam natural-