A ESTRELLA DO SUL

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o acaso guiava a picareta na exploração dos claims de Vandergaart-Kopje!

Era isto que Cypriano ía vendo cada dia mais claramente, e perguntava se devia ou não continuar com um officio tão pouco remunerador, quando uma circumstancia casual veiu modificar o seu genero de trabalho.

Certa manhã deu de cara com uns doze cafres que vinham procurar occupação ao acampamento.

Aquella pobre gente vinha das longiquas montanhas que separam a Cafraria propriamente dita do paiz dos bazutos. Tinham andado mais de cento e cincoenta leguas a pé ao longo do rio Orange, caminhando a um de fundo, vivendo do que encontravam pelo caminho, isto é, de raizes, de fructos silvestres e de gafanhotos. Mettia medo a magreza d'elles ; pareciam mais esqueletos do que seres vivos. Com as pernas escanifradas, os compridos troncos nus, a pelle enrugada parecendo cobrir um arcabouço vasio, com as costellas salientes e as faces encovadas, tinham mais cara de quem quer devorar um bife de carne humana do que de quem vem dar dias de bom e productivo trabalho. Por isso ninguem se mostrava disposto a contratal-os, e elles para ali estavam acocorados á beira do caminho, indecisos, tristes, embrutecidos pela miseria.

Cypriano commoveu-se muito ao vel-os. Fez-lhe signal que esperassem, voltou ao hotel onde costumava comer, e mandou arranjar um enorme caldeiro de farinha de milho desfeita em agua a ferver, dando ordem para a levarem aos pobres diabos juntamente com algumas latas de carne de conserva e duas garrafas de rhum.

Depois entregou-se ao prazer do os ver devorar este festim sem precedentes para elles.

Na verdade pareciam naufragos, salvos n'uma jangada ao cabo de quinze dias de jejum e angustias! Comiam tanto que