A Imprensa
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pusculo das nossas industrias, para d'este modo se crear novo e maior brilho para ellas.

I

Quando e como teve origem a arte de tecelagem? Sabe-se, apenas, que data dos tempos prehistoricos, sendo sem duvida uma das mais antigas, pois é de suppor que o homem, nos primeiros periodos da sua existencia na terra, procurasse satisfazer a um certo numero de necessidades, que ía sentindo após a da nutrição; e que fosse, successivamente, creando os meios de as satisfazer.

D'aqui, a hypothese de que os rigores dos climas, a defeza dos insectos, e ainda outras causas, o levariam a procurar, no seu desenvolvimento constante, crear os tecidos rusticos, primitivos tambem.

N'esta hypothese, e seguindo a opinião de Mr. Eugène Burel a tal respeito, estou plenamente convencido de que a arte de tecer foi inventada pouco depois do apparecimento do homem sobre a terra; e esse methodo, então de certo muito diverso do actual, foi successivamente sendo transformado, como o das demais artes, até o ponto em que as vemos hoje, tendendo ainda a novos aperfeiçoamentos.

Ha ainda poucos annos que entre alguns povos do Egypto, e de outros pontos do globo onde a civilisação não tinha chegado, era exercida a arte de tecer pelo systema primitivo.

Porém, nos povos cultos, parece que desde muitos seculos a transformação n'aquella arte tem sido completa, por isso que nenhuma similhança existe com a fórma primitiva; e note-se que, quando fallamos do systema primitivo de tecer, referimo nos unicamente ao tear e mais apparelhos em que então eram executados os tecidos; não nos referimos aos principios ou regras geraes da tecelagem, porque essas têem por base o cruzamento de fios; uns, a teia antes do tecer, outros, a trama que vae successivamente sendo disposta, á proporção que se forma o tecido, devendo subordinar-se a ellas todas as transformações que hajam de se effectuar.

No meado do seculo XVII, sendo já importante a industria de tecidos em França, começou ella ainda a tomar maior desenvolvimento, o qual se estendeu a outros paizes da Europa; desenvolvimento em que Portugal teve parte brilhante, sobretudo no ramo da seda, facto devido á administração do benemerito marquez de Pombal, Sebastião José de Carvalho, o qual, ao mesmo tempo que animava o nosso commercio e fundava novas industrias, dava admiravel impulso áquelle ramo de tecelagem, creando novas fabricas e fomentando a cultura da propria materia prima.

A partir d'aquella epocha até um terço do seculo actual, a tecelagem de sedas conservou-se florescente no nosso paiz. Os productos que saíam das nossas fabricas faziam honra aos industriaes e artistas que os executavam. Os velludos, os setins lisos e de lavrar, os tecidos para estofos, as télas para paramentos e ornamentos de igrejas, satisfaziam plenamente o gosto e necessidades do mercado, sendo tal o esmero com que se trabalhava n'aquella industria que cada fabrica se convertêra n'uma escola, d'onde saíram artistas muito habilitados.

D'aquella epocha em diante o consumo dos artefactos de seda, e principalmente os de vestuario, tem diminuido cada vez mais; o gosto, ou antes a moda, tem preferido os tecidos lisos aos lavrados. Estas circumstancias e outras que seria extenso relatar, bem como em alguns pontos as difficuldades creadas á mesma industria pelos regulamentos aduaneiros, têem feito acabar com muitas d'aquellas fabricas, sendo limitadissimo o numero das que existem hoje.

(Continúa)

M. Martins

OS NOIVOS

Á sombra dos lilazes perfumada
Sorriem-se felizes, ternamente...
A viração suspira embalsamada
Nas harpas da floresta viridente.

Circumda-os uma auréola sagrada,
— A ventura sonhada docemente
E um puro amor, a eterna Madrugada,
Lhes banha a fronte doce e resplendente.

E emquanto a alada turba dos maestrinos,
Os melros joviaes, trauteiam hymnos
Ao sol que surge, n'um clarão fulgindo,

Entre a folhagem, corre o som de um beijo,
Suave e puro, como o brando harpejo
Das assucenas o seu peito abrindo...

Porto — Outubro, 1885.
 
A IMPRENSA DA UNIVERSIDADE
(Conclusão)

O actual edificio da imprensa da Universidade é no seu genero o melhor do reino, sendo até superior ao da imprensa nacional de Lisboa.

Tem duas frentes o edificio: uma para a rua da Ilha, onde é a entrada principal, e outra para a rua do Norte. As casas proprias da imprensa e as da sua dependencia occupam um vastissimo espaço, pois que, com excepção da igreja da sé velha, comprehendem todos os edificios desde o collegio de Santa Rita, por um lado, até quasi ao cimo da rua do Norte, pelo outro.

No pavimento inferior da imprensa, em volta de um grande pateo, e exactamente no sitio do antigo claustro da sé, acha-se o avultado deposito de impressos antigos e officinas para trabalho de carpinteria e guarda de materiaes para as obras da imprensa, e predios que são suas pertenças. Tambem ahi ha as casas onde antigamente habitava o administrador da imprensa, e que posteriormente foram destinadas para residencia do contínuo.

No pavimento superior, para o qual se sobe por uma ampla escadaria, com entrada pela rua da Ilha, existe a officina typographica.

Consta de duas grandes salas de composição. Uma, que é bella e espaçosa, e que tem 8 janellas viradas ao poente, por onde recebe muita luz, tem 28m,31 de comprido, e 4m,68 de largo; e a outra, que recebe a luz do pateo interior, tem 26m,72 de comprido, e 5m,47 de largo.

Alem d'estas duas casas de composição tem mais a casa da escola typographica.