em que a sua imaginação teimosa insistia em fazer de Maria o mesmo ser animado e doce que fora em tempos perdidos. Fugira da realidade amarga para o sonho consolador, onde resistia às solicitações da verdade...
Por que não afagar uma ilusão, quando ela suaviza um sofrimento?
– Vovó está doente?!
– Não... vai-me custar...
– A culpa não é minha! – observou o barão.
– Ninguém te acusa; descansa.
– Que é que vai custar, vovó?
– Nada... Filha...
Glória voltara a olhar para a rua, rindo de umas coisas, admirando-se de outras.
Quando o carro parou à porta de Argemiro, a baronesa, dominando a dor em que o seu coração se dissolvia, estendeu a mão ao genro, que descera à rua para ajudá-la a sair da carruagem.
A baronesa atravessou o vestíbulo com passo firme e vagaroso. Argemiro sentia no braço o peso da sua mão gorda alvejando entre as malhas negras da luva de retrós.
– Fez boa viagem? – perguntou-lhe ele carinhosamente.
Mas era pedir muito, pedir-lhe que falasse. Ela não respondeu. Os seus olhos, de um azul turvo, interrogavam a porta do interior da casa, onde Maria vinha recebê-la outrora...