Acalma-te... e voltemos para a nossa chácara. Eu estou farto de cidade até aqui! – e apontava para a calva.
– Voltaremos... deixa estar... eu também já não posso mais... A minha vida é um inferno... Todos esquecem, todos gozam, só eu vivo acorrentada ao passado, e revendo a todos os instantes a cena horrível da morte de Maria! Está aqui tudo, tudo, estampado em meus olhos, enterrado no meu peito. A minha vida parou naquela hora! Não vejo, não ouço, não sei de mais nada. Os anos e os meses têm corrido para mim ignorados. A minha existência é a existência da minha filha. O coração dela ficou dentro do meu. É o que eu sinto! Hei de defendê-lo até o último extremo! Às vezes, também eu acredito na loucura... Ao princípio, enquanto Glória era só minha, sentia até certa suavidade em conviver assim com a minha morta... Nota que já não digo: a nossa! Mas agora, agora que a inimiga, a intrusa, me rouba também o amor da minha neta, sinto dentro de mim um clamor de choro que não posso sufocar, por mais que me esforce! Sou uma abandonada.
– Glória adora-te como sempre...
– Foge-me... esquiva-se... acha a minha companhia monótona... A outra conta-lhe histórias, mostra-lhe gravuras, saracoteia-se com ela pelas ruas, até já a surpreendi pulando na