“Qual foi seu próximo passo?”

“Meu primeiro passo, foi o de experimentar a sensação de vôo, já havia presenciado em São Paulo uma apresentação do jovem Stanley Spencer, que também me deixara boquiaberto. Ele se elevara num Montgolfier e ao atingir determinada altura se desprendia do balão e caia de páraquedas.

No mesmo ano que havia tido meu primeiro encontro com o motor a petróleo Consultei no anuário Didot Bottin da cidade de Paris, e dele tirei o endereço de um aeronauta profissional, ao qual fui comunicar os meus planos.

— O senhor quer subir em balão? perguntou-me o homem em tom grave. Hum! Hum!... Acha que terá coragem? Isso não é nenhuma brincadeira, e o senhor me parece muito jovem.

Garanti a firmeza de minha resolução e de minha coragem. Pouco a pouco meus argumentos o abalariam, tanto que, por fim, concordou em me proporcionar uma curta ascensão de duas horas, no máximo, numa tarde que estivesse bem calma.

— Minha remuneração, acrescentou ele, será de 1.200 francos. Além disto o senhor assinará um contrato declarando que se responsabiliza por qualquer acidente na sua pessoa e na minha, em benefício de terceiros, bem como por qualquer dano que suceder ao balão e seus acessórios. O senhor ficará também com o encargo de pagar nossas passagens de volta e o transporte do balão com sua barquinha na estrada de ferro, do lugar em que aterrarmos até Paris.

Pus-me a refletir. Esse aeronauta, uma vez derrubara a chaminé de uma usina, e de outra cairá sobre a casa de um lavrador; o baldo incendiara e ao contacto das fagulhas que saiam da chaminé e a casa ardera também. As perspectivas eram sombrias. Para um rapaz de dezoito anos, 1.200 francos era uma grande quantia. Como justificar-me de tal despesa perante os meus? E fiz o raciocínio seguinte:

— Si arriscar 1.200 francos pelo prazer de uma tarde, posso gostar, ou não gostar. No primeiro caso, empregarei o meu dinheiro em pura perda; no segundo, ficarei com vontade de repetir o divertimento, e não disporei de meios.

O dilema mostrou-me o caminho a seguir. Renunciei, não sem mágoa, á aerostacão, e fui buscar consolo no automobilismo.

Os automóveis eram ainda raros em Paris em 1891. Tive de ir à usina de Valentigney para comprar minha primeira máquina, uma Peugeot de rodas altas, de três e meio cavalos de força.

Era uma curiosidade. Nesse tempo não existia ainda nem licença de automóvel nem exame de motorista.

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