Recomendava-se aos meus olhos, ás minhas conveniências e á minha razão: comprei-o. Não me arre- pendi. Com ele corro Paris. É consideravelmente rápido, silencioso e não desprende odor algum. Foi dirigindo este agradável veiculo que reiterei minhas suspeitas, e tive a certeza de não usá-los em minhas experiências com dirigiveis.
Havia eu já entregue aos construtores o plano do invólucro do meu balão. Era o dum balão cilíndrico, terminado em cone na frente e atrás, com 25 metros de comprimento e 3,50 de diâmetro, para uma capacidade de 180 metros cúbicos de gás. Meus cálculos não me deixavam dispor senão de 30 quilos para peso do balão, inclusive verniz. Renunciei pois a rede ordinária e á “camisa” o invólucro exterior, por ter considerado que este segundo invólucro era não somente supérfluo mas ainda incômodo, se não perigoso. Em lugar dele fiz as cordas de suspensão da barquinha serem fixas diretamente ao invólucro único por meio de pequenas hastes de madeira introduzidas em longas ourelas horizontais costuradas dos dois lados do estofo, em uma grande parte do comprimento do balão. Para não exceder, com o verniz, o limite de peso calculado, recorri forçosamente á minha seda japonesa que tanta solidez havia provado no “Brasil”.
Ao tomar conhecimento das minhas especificações o sr. Lachambre começou por recusá-las redondamente. Não queria ter a mínima interferência em, empresa tão temerária. Todavia, quando lhe recordei que a propósito do “Brasil” ele me fizera as mesmas objeções, e quando lhe assegurei, além disso, que se preciso fosse, eu mesmo talharia e coseria o balão, cedeu e encarregou-se do negócio. Talharia, coseria e envernizaria o balão segundo os meus planos. Fiz o leme com seda esticada sobre uma armação de aço triangular.
Faltava-me apenas encontrar um sistema de pesos deslocáveis, que, desde o principio, eu considerava indispensáveis. Para este fim coloquei, um á frente e outro atrás, dois sacos de lastro, suspensos por cordas ao invólucro do balão; por meio de outras cordas mais leves, cada um destes dois pesos podia ser puxado para a barquinha, modificando assim o centro de gravidade de todo o sistema. Puxando o peso dianteiro, eu faria a proa elevar-se diagonalmente; puxando o peso traseiro, produziria o efeito oposto. Eu tinha, a mais, um “guide-rope” de 60 metros de comprimento, do qual, em caso de necessidade, me serviria também como lastro deslocável.
Estes trabalhos tomaram-me vários meses e foi todo realizado na pequena oficina da rua do Coliseu, a poucos passos apenas do local onde o Aéro Club de Paris devia ter um dia suas primeiras instalações.
Garantida a confecção do invólucro, cuidei da barquinha, do motor, do propulsor, do leme e da maquinaria. Quando o todo ficou pronto, submetio a diversas experiências, suspendendo o sistema por meio de uma corda ás traves da oficina. Puz o motor em ação e medi a força do movimento de impulsão que determinava o propulsor batendo o ar; opuz-me a este movimento de impulsão por meio de uma corda fixa a um dinamômetro, e constatei que a força de tração desenvolvida pelo motor no propulsor, com dois braços medindo cada um, 1 metro, atingia 25 libras, ou sejam 11 quilos e meio. Tal número prometia uma boa velocidade a um balão cilíndrico das dimensões do meu, cujo comprimento era igual a cerca de sete vezes o diâmetro . Com 1.200 voltas por minuto, e caso tudo corresse normalmente, o propulsor, fixo diretamente á arvore do motor, imprimiria sem esforço á aeronave uma velocidade de pelo menos 8 metros por segundo.
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