d’uma longa jornada: e parei á beira tortuosa d’um rio que devia ser o devoto Jordão. Era o Danubio. E de repente o nome de Jerusalem surgiu, negro, n’uma vasta solidão branca, sem nomes, sem linhas, toda de arêas, nua, junto ao mar. Alli estava Jerusalem. Meu Deus! Que remoto, que ermo, que triste!
Mas então comecei a considerar que, para chegar a esse sólo de penitencia, tinha d’atravessar regiões amaveis, femininas e cheias de festa. Era primeiro essa bella Andaluzia, terra de Maria Santissima, perfumada de flôr de laranjeira, onde as mulheres só com metter dois cravos no cabello, e traçando um chale escarlate, amansam o coração mais rebelde, bendita sêa su gracia! Era adiante Napoles — e as suas ruas escuras, quentes, com retabulos da Virgem, e cheirando a mulher, como os corredores d’um lupanar. Era depois mais longe ainda a Grecia: desde a aula de Rhetorica ella apparecera-me sempre como um bosque sacro de loureiros onde alvejam frontões de templos, e, nos lugares de sombra em que arrulham as pombas, Venus de repente surge, côr de luz e côr de rosa, offerecendo a todo o labio, ou bestial ou divino, o mimo dos seus seios immortaes.