Doutor Topsius rosnava uma praga immunda; e então uma grata communhão se estabelecia entre elle e o meu singelo intellecto de bacharel em leis. Ficou-me a dever seis moedas; — mas esta diminuta migalha de pecunia desapparece na copiosa onda de saber historico com que fecundou o meu espirito. Uma coisa apenas, além do seu pigarro d’erudito, me desagradava n’elle — o habito de se servir da minha escova de dentes.
Era tambem intoleravelmente vaidoso da sua patria. Sem cessar, erguendo o bico, sublimava a Allemanha, mãi espiritual dos povos; depois ameaçava-me com a irresistibilidade das suas armas. A omnisciencia da Allemanha! A omnipotencia da Allemanha! Ella imperava, vasto acampamento entrincheirado d’in-folios, onde ronda e falla d’alto a Metaphysica armada! Eu, brioso, não gostava d’estas jactancias. Assim, quando no Hotel das Pyramides nos apresentaram um livro para n’elle registarmos nossos nomes e nossas terras, o meu douto amigo traçou o seu «Topsius», ajuntando por baixo, altivamente, em letras tesas e disciplinadas como galuchos: — «Da Imperial Allemanha.» Arrebatei a penna; e recordando o barbudo João de Castro, Ormuz