torno do Christo Morto, serenos e armados velam á porta, fumando.
Logo á entrada parámos diante d’uma lapide quadrada, incrustada nas lages escuras, tão polida e reluzindo com um tão dôce brilho de nacar que parecia a agua quieta d’um tanque onde se reflectiam as luzes das lampadas. Potte puxou-me a manga, lembrou-me que era costume beijar aquelle pedaço de rocha, santa entre todas, que outr’ora, no jardim de José d’Arimathêa...
— Bem sei, bem sei... Beijo, Topsius?
— Vá beijando sempre, disse-me o prudente historiographo dos Herodes. Não se lhe péga nada; e agrada á senhora sua tia.
Não beijei. Em fila e calados, penetrámos n’uma vasta cupula, tão esfumada no crepusculo que o circulo de frestas redondas na cimalha brilhava apenas, pallidamente, como um aro de perolas em torno de uma tiara: as columnas que a sustentavam, finas e juntas como as lanças d’uma grade, riscavam a sombra em redor — cada uma picada pela mancha vermelha e mortal d’uma lampada de bronze. Ao centro do lagedo sonoro elevava-se, espelhado e branco, um Mausoleu de marmore — com lavores e com florões: um velho, pano de damasco cobria-o como um toldo, recamado de bordados d’ouro