escaldando ao sol, um limoeiro toldava a agua clara d’um tanque. Em volta, sobre pilastras de marmore verde, corria uma varanda, silenciosa e fresca, d’onde pendia aqui e além um tapete da Assyria com flôres bordadas. Um puro azul brilhava no alto; — e ao canto, sob um alpendre, um negro atrellado por cordas como uma alimaria a uma barra de pau, calçado de ferraduras, vincado de cicatrizes, ia fazendo gemer e girar lentamente a grande mó de pedra do moinho domestico.
No escuro d’uma porta appareceu um homem obeso, sem barba, quasi tão amarello como a tunica lassa que o envolvia todo: tinha na mão uma vara de marfim e mal podia erguer as palpebras molles.
— Teu amo? gritou-lhe Topsius, desmontando.
— Entra, disse o homem n’uma voz fugidia e fina como um silvo de cobra.
Por uma escadaria rica de granito negro chegámos a um patamar — onde pousavam dois candelabros, espigados como os arbustos de que reproduziam, em bronze, o tronco sem folhas: e entre elles estava de pé, diante de nós, Gamaliel, filho de Simeon. Era muito alto, muito magro; e a barba solta, lustrosa, perfumada, enchia-lhe o peito,