E o velho desafogava o seu longo queixume:
— Mas eis que ha dias esse Rabbi de Galilêa apparece no Templo, cheio de palavras de cólera, ergue o bastão e arremessa-se sobre nós, bradando que aquella «era a casa de seu pai, e que nós a polluiamos!...» E dispersou todas as minhas pedras, que nunca mais vi, que eram o meu pão! Quebrou nas lages os vasos d’oleo d’Eboim, de Joppé, que nem gritava, espantado. Acudiram os guardas do Templo. Menahem acudiu tambem; até, indignado, disse ao Rabbi: — «És bem duro com os pobres. Que auctoridade tens tu?» E o Rabbi fallou «de seu pai», e reclamou contra nós a lei severa do Templo. Menahem baixou a cabeça... E nós tivemos de fugir, apupados pelos mercadores ricos, que bem encruzados nos seus tapetes de Babylonia, e com o seu lagedo bem pago, batiam palmas ao Rabbi... Ah! contra esses o Rabbi nada podia dizer: eram ricos, tinham pago!... E agora aqui ando! Minha filha, viuva e doente, não póde trabalhar, embrulhada a um canto nos seus trapos: e os filhos de minha filha, pequeninos, têm fome, olham para mim, vêem-me tão triste e nem choram. E que fiz eu? Sempre fui humilde, cumpro o Sabbat, vou á synagoga