— Sim, padre Pinheiro, de consolar!... Pois tomavamos o nosso cafésinho, depois vinhamos para o hotel, e ahi no quarto, com os santos Evangelhos, punhamo-nos a estudar todos aquelles divinos lugares na Judêa onde tinhamos d’ir rezar... E como o allemão era lente e sabia tudo, eu era instruir-me, instruir-me!... Até elle ás vezes dizia: «Vossê, Raposo, com estas noitadas, vai d’aqui um chavão...» E lá isso, o que é de coisas santas e de Christo, sei tudo... Pois, senhores, assim passavamos á luz do candieiro até às dez, onze horas... Depois chásinho, terço, e cama.

— Sim senhor, noites muito bem gozadas, noites muito fructuosas! declarou, sorrindo para a titi, o estimavel dr. Margaride.

— Ai, isso fez-lhe muita virtude! suspirava a horrenda senhora. Foi como se subisse um bocadinho ao céo... Até o que elle diz cheira bem... Cheira a santo.

Modestissimamente, baixei a palpebra lenta.

Mas Negrão, com sinuosa perfidia, notou que mais proveitoso seria, e de maior unção repassaria as almas — escutar coisas de festas, de milagres, de penitencias...

— Estou seguindo o meu itinerario, snr. padre Negrão, repliquei asperamente.