de uma nobre alma offendida que carece de reparação:
— É já, titi! Vamos ao Oratorio! Quero que fique tudo aqui assombrado! Foi o que disse o meu amigo allemão: «Essa reliquia, ao destapar-se, é de ficar uma familia inteira azabumbada!...»
Deslumbrada, a titi ergueu-se de mãos postas. Eu corri a prover-me d’um martello. Quando voltei, o dr. Margaride, grave, calçava as suas luvas pretas... E atraz da snr.ª D. Patrocinio, cujos setins faziam no sobrado um ruge-ruge de vestes de prelado, penetrámos no corredor onde o grande bico de gaz silvava dentro do seu vidro fôsco. Ao fundo a Vicencia e a cozinheira espreitavam com os seus rosarios na mão.
O Oratorio resplandecia. As velhas salvas de prata, batidas pelas chammas das velas de cera, punham no fundo do altar um brilho branco de Gloria. Sobre a candidez das rendas lavadas, entre a neve fresca das camelias — as tunicas dos Santos, azues e vermelhas, com o seu lustre de sêda, pareciam novas, especialmente talhadas nos guarda-roupas do céo para aquella rara noite de festa... Por vezes o raio d’uma aureola tremia, despedia um fulgor, como se na madeira das imagens corressem estremecimentos