indo acabar os meus preparatorios em Coimbra, na casa do dr. Rôxo, lente de Theologia. Fizeram-me roupa branca. A titi deu-me n’um papel a oração que eu diariamente devia rezar a S. Luiz Gonzaga, padroeiro da mocidade estudiosa, para que elle conservasse em meu corpo a frescura da castidade, e na minha alma o medo do Senhor. O padre Casimiro foi-me levar á cidade graciosa onde dormita Minerva.
Detestei logo o dr. Rôxo. Em sua casa soffri vida dura e claustral; e foi um ineffavel gosto quando, no meu primeiro anno de Direito, o desagradavel ecclesiastico morreu miseravelmente d’um anthraz. Passei então para a divertida hospedagem das Pimentas — e conheci logo, sem moderação, todas as independencias, e as fortes delicias da vida. Nunca mais rosnei a delambida oração a S. Luiz Gonzaga, nem dobrei o meu joelho viril diante de imagem benta que usasse aureola na nuca; embebedei-me com alarido nas Camellas; affirmei a minha robustez esmurrando sanguinolentamente um marcador do Trony; fartei a carne com saborosos amores no Terreiro da Herva; vadiei ao luar, ganindo fados; usava moca; e como a barba me vinha, basta e negra, aceitei com orgulho a alcunha de Raposão.