amigo do commendador Godinho, fiel visita das Neves, o Margaride, o que fôra delegado em Vianna, depois juiz em Mangualde. Rico por morte de seu mano Abel, secretario da Camara Patriarchal, o doutor aposentára-se, farto dos autos, e vivia em ocio, lendo os periodicos, n’um predio seu na Praça da Figueira. Como conhecêra o papá, e muitas vezes o acompanhará ao Mosteiro, tratou-me logo com authoridade e por você.

Era um homem corpulento e solemne, já calvo, com um carão livido, onde destacavam as sobrancelhas cerradas, densas e negras como carvão. Raras vezes penetrava na sala da titi sem atirar, logo da porta, uma noticia pavorosa. «Então, não sabem? Um incendio medonho, na Baixa!» Apenas uma fumaraça n’uma chaminé. Mas o bom Margaride, em novo, n’um sombrio accesso d’imaginação, compuzera duas tragedias; e d’ahi lhe ficára este gosto morbido d’exagerar e d’impressionar. «Ninguem como eu, dizia elle, saborêa o grandioso...»

E, sempre que aterrava a titi e os sacerdotes, sorvia gravemente uma pitada.

Eu gostava do dr. Margaride. Camarada do papá em Vianna, muitas vezes lhe ouvira cantar, ao violão, a xacara do conde Ordonho.