no Martinho, me fazia repassar nos labios o adocicado e gostoso sabor dos seus beijos.
Á noite, depois do chá, refugiava-me no oratorio, como n’uma fortaleza de santidade, embebia os meus olhos no corpo de ouro de Jesus, pregado na sua linda cruz de pau preto. Mas então o brilho fulvo do metal precioso ia, pouco a pouco, embaciando, tomava uma alva côr de carne, quente e tenra; a magreza de Messias triste, mostrando os ossos, arredondava-se em fórmas divinamente cheias e bellas; por entre a corôa d’espinhos, desenrolavam-se lascivos anneis de cabellos crespos e negros; no peito, sobre as duas chagas, levantavam-se, rijos, direitos, dois esplendidos seios de mulher, com um botãosinho de rosa na ponta; — e era ella, a minha Adelia, que assim estava no alto da cruz, núa, soberba, risonha, victoriosa, profanando o altar, com os braços abertos para mim!
Eu não via n’isto uma tentação do Demonio — antes me parecia uma graça do Senhor. Comecei mesmo a misturar aos textos das minhas rezas as queixas do meu amor. O céo é talvez grato: e esses innumeraveis santos, a quem eu prodigalisára Novenas e Coroinhas, desejariam talvez recompensar