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REVISTA TRIMENSAL

Os chimangos preparava m-se para o pleito com ardor quasi revolucionario. Era para receiar-se, por tanto, grande alteração na ordem publica.

Mas na hora extrema ainda uma vez realisa-se o mons parturiens do fabulista.

Não conseguindo da administração o apoio que esperavam e em que punham toda sua esperança, logo ao primeiro encontro, tocaram a. quartéis, ficando os saquaremas senhores do campo e da victoria.

Ferreira foi, nessa occasião, alvo das mais freneticas ovações: o povo não consentio que elle fosse a pé para a casa e levou-o em braços desde a capella do Rosario, que servia então de matriz.

Mas, assim como ha males que vem para bem, assim tambem ha bens que nos trazem males.

Por causa dessa ovação ia Ferreira enviuvando nesse dia.

A mulher, vendo-o assim agarrado pelo povo, sem saber a rasão, persuade-se de que queria-se assassinal-o, e teve uma syncope tão profunda, que della veio a morrer sete annos depois[1], sem que antes podesse mais gosar saùde.

Ferreira era tambem esposo extremoso. Nunca mais casou-se, e desde então trajou, até á morte, pésado luto, que retractava fielmente sua alma profundamente sentida.

Aggravava-lhe essa tristeza o nunca ter tido um sò filho, nem mesmo illegitimo que podesse legitimar, como elle declarou no seo testamento.

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  1. No Pedro II n. 1430 de 21 de Fevereiro de 1855 Ferreira publicou este agradecimento:

    « Antonio Rodrigues Ferreira cordealmente agradece ás pessoas que se dignaram de obsequial-o acompanhando ao cemiterio do Crôatá o corpo de sua muito presada esposa Francisca Aurea de Macedo, e espera que renovarão este acto de caridade e religião, assistindo á missa do setimo dia, que terá logar sexta-feira, 23 do corrente, pelas 4 horas d’amanhã, na igreja matriz desta cidade. »