Se havia alguma torneira pouco reluzente ou alguma nódoa no chão, detinha-se, exigindo que se corrigisse a falta logo ali, à sua vista. E era assim por todos os compartimentos, minuciosa, ativa, severa.
Lamentava-se da falta de método, que a obrigava a ter em casa tantos criados; mas se pensava em despedir algum deles, achava-o logo indispensável. A casa era grande e o dia curto para observá-la em todas as suas exigências. A viúva não fazia outra coisa senão mandar; entretanto não lhe sobrava tempo para mais nada!
Tinha de vez em quando as suas horas tristes, em que a inteligência se lhe revoltava contra a monotonia daqueles meses que se desfolhavam iguais em tudo, sempre iguais... O corpo cansado não reagia, e o pensamento nadava preguiçosamente em idéias vagas, coloridas pelo romantismo da idade em que as alegrias e entusiasmos da mocidade já não existem, e em que as friezas da velhice ainda não chegaram... Ela tinha uma filha, Sara, que era o seu conforto e a sua agonia. Por causa dela renunciava aos divertimentos do mundo, exagerando as suas atribuições caseiras. Tinha medo de apaixonar-se um dia, fugia do perigo de amar, de trazer para casa, para o gozo do seu corpo e da sua alma, um padrasto para a filha, um estranho com quem tivesse de repartir os seus cuidados e as suas riquezas.